(G1 – 20/08/2015) Jovens vão responder em liberdade a processo de assassinato. Eles são acusados de agredir e matar travesti em junho após briga.
A Justiça de São Paulo revogou neste mês as prisões dos cinco réus acusados de agredir e matar a socos e pauladas a travesti Laura Vermont, de 18 anos, durante uma briga em 20 de junho na Zona Leste da capital. A informação consta no site do Tribunal de Justiça (TJ).
De acordo com o processo que apura as eventuais responsabilidades pelo crime de assassinato, a juíza Érica Aparecida Ribeiro Lopes e Navarro Rodrigues expediu alvarás de soltura para Van Basten Bizarrias de Deus, Iago Bizarrias de Deus, Jefferson Rodrigues Paulo, Bruno Rodrigues de Oliveira e Wilson de Jesus Marcolino. Eles têm idades que variam de 20 a 25 anos.
Jefferson e os irmãos Van Basten e Iago haviam sido presos em julho pela Polícia Civil. Bruno e Wilson eram considerados foragidos até então, mas teriam sido detidos posteriormente. Com a decisão da magistrada, porém, o quinteto poderá responder ao homicídio em liberdade até um eventual julgamento. A decisão é de 11 de agosto.
Nela, a juíza justificou a suspensão da prisão dos cinco rapazes alegando que “não havendo indícios de que os acusados tenham procurado furtar-se à sua responsabilização criminal ou prejudicar a instrução probatória, pois confessaram a prática do delito e individualizaram suas condutas, entendo cabível a substituição da custódia preventiva pelas seguintes medidas cautelares”.
Entre as medidas cautelares que os cinco réus terão de cumprir estão: permanecerem em São Paulo; não frequentarem bares ou casas noturnas que vendam bebidas alcoólicas; não saírem de suas residências à noite e nos finais de semana; além de não procurararem testemunhas e parentes de Laura.
“Por outro lado, deve ser melhor esclarecida no curso da instrução a sucessão de eventos posteriores que atingiram a vítima”, escreveu a magistrada.
A equipe de reportagem não conseguiu localizar os acusados para comentarem o assunto. Também não foram encontrados seus advogados para falarem do caso. Eles foram denunciados no mês passado pelo Ministério Público (MP). Posteriormente, a Justiça aceitou a acusação de homicídio contra eles, que passaram a figurar como réus no processo.
O G1 ainda tentou ligar para os familiares de Laura para saber o que acharam da decisão judicial de soltar os cinco rapazes, mas não obteve contato.
De acordo com a Polícia Civil, Laura, que tem no registro o nome de David Laurentino Araújo, brigou com várias pessoas antes de morrer, chegando até a roubar um carro da Polícia Militar (PM).
Segundo o 32º Distrito Policial (DP), que investiga o caso, câmeras de segurança de uma padaria gravaram a briga entre os cinco rapazes e a travesti.
Os réus teriam confessado participação nas agressões a Laura após um desentendimento, quando ela passava na rua. A investigação descartou a possibilidade de o crime ter sido motivado por homofobia.
Para a polícia, a morte da travesti decorreu de um desentendimento entre os envolvidos. Parentes de Laura discordaram da apuração policial; para eles o crime foi um ataque homofóbico.
Laudo do Instituto Médico-Legal (IML) concluiu que a causa da morte da travesti foi em decorrência do traumatismo craniano que ela sofreu. Exames médicos apontaram que a vítima morreu de “traumatismo cranioencefálico causado por agente contundente”.
“Um dos detidos confessou que pegou um pedaço de pau e deu três pauladas na cabeça de Laura”, afirmou em julho o delegado José Manoel Lopes, que investigava se mais pessoas contribuíram para a morte da travesti. O G1 não conseguiu localizá-lo nesta quinta-feira (20).
De acordo com o delegado, na madrugada de 20 de junho, Laura havia pego carona com o cliente de uma travesti amiga dela e se desentendido no veículo com as duas pessoas. Ela queria que o rapaz a levasse para sua casa, mas ele se recusou, segundo a polícia. Durante a discussão, Laura cortou a colega com um canivete.
Segundo o delegado, o motorista parou o veículo e as duas desceram na Avenida Pires do Rio e continuaram a brigar. Foi quando um motoboy passou e arrancou o canivete das mãos de Laura, que estaria alterada. “A investigação aguarda o resultado dos laudos periciais para saber se ela consumiu drogas e bebida”, disse Lopes.
Em seguida, de acordo com o delegado, Laura atravessou a avenida e se desentendeu com um casal, puxando o cabelo de uma mulher. Depois, ela passou em frente a uma padaria da Avenida Nordestina onde estavam cinco jovens que haviam bebido no local. Ao passar por eles, a travesti teria discutido com o grupo, que passou a agredi-la.
Sangrando, Laura ainda foi filmada pelo frentista de um posto de combustível. As imagens foram veiculadas na internet. A investigação apura em que momento isso ocorreu: se antes ou depois da briga perto da padaria.
Posteriormente, a PM foi à região para atender um chamado por conta da briga entre Laura e os rapazes. Ao chegar ao local, dois policiais militares contaram que a travesti entrou no carro da corporação e dirigiu até bater num muro. Durante o trajeto, um policial estava dentro do veículo tentando impedir o roubo.
Esse policial, que é o soldado Diego Clemente Mendes, de 22 anos, ainda atirou no braço de Laura. Ele e o sargento Ailton de Jesus, de 43 anos, teriam deixado de socorrer a travesti, que foi levada por pessoas que apareceram na região e a levaram a um hospital, onde morreu.
O corpo de Laura foi encontrado esfaqueado e com um tiro no braço. Os policiais Diego e Ailton chegaram a ser presos pela Polícia Civil por mentirem durante o depoimento que prestaram sobre o caso no 63º DP, Vila Jacuí. Depois foram soltos por decisão da Justiça.
Eles teriam omitido o fato de que um deles atirou na travesti. A dupla ainda teria orientado uma testemunha a omitir o disparo, dando a ela uma folha de papel com o que deveria falar. O MP não denunciou os dois PMs, mas solicitou que eles fossem investigados por seus superiores pela suspeita de terem cometido crimes de falso testemunho e fraude processual.
Kleber Tomaz
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