Líderes da Igreja Mórmon pedem leis que protejam os homossexuais

28 de janeiro, 2015

(O Globo, 28/01/2015) A Igreja Mórmon fez um apelo, nesta terça-feira, para que sejam criadas novas leis que protejam gays, lésbicas, bissexuais e transgêneros da discriminação, mas sob uma condição: essas leis também devem, de alguma forma, proteger o direito de quem manifesta sua crença religiosa em relação aos LGBT.

Os líderes mórmons, no entanto, não explicaram como seria estabelecido esse limite entre os direitos dos homossexuais e a liberdade religiosa, e também não está claro o que a igreja pretende com essa campanha, já que ela insiste que não está fazendo mudanças em sua doutrina, e ainda acredita que o sexo é contra a lei de Deus, a menos que seja dentro de um casamento entre um homem e uma mulher.

— Todos nós temos que aprender a conviver com aqueles que não compartilham as mesmas crenças e valores que nós — anunciou a igreja, em uma rara entrevista coletiva da qual participaram três anciãos pertencentes a um órgão mórmon chamado Quórum dos Doze Apóstolos.

Mas a nova abordagem do tema poderia mudar profundamente o cenário político nos estados americanos que são redutos mórmons, como Utah, Idaho, Nevada e Arizona, onde a igreja e seus membros desempenham um papel cívico grande. Em Utah, por exemplo, a maioria dos legisladores estaduais é mórmone, lá, a novidade foi comemorada, depois de anos de esforços inúteis de ativistas LGBT para criar leis anti-discriminação.

— O que a Igreja Mórmon fez hoje foi histórico — disse o senador democrata Jim Dabakis, que foi criado como um mórmon e é abertamente gay. — Essa foi uma declaração ousada, forte, íntegra… Hoje estamos vendo os frutos da civilidade e do respeito.

Grupo que luta pelos direitos dos gays, o Equality Utah também comemorou, dizendo que os direitos dos homossexuais podem co-existir com liberdade religiosa.

Já outros representantes foram mais comedidos em seus discursos. O reverendo Russell Moore, da Convenção Batista do Sul, chamou os líderes mórmons “bem-intencionados, porém ingênuos” com relação a uma maior aceitação da religião. Por sua vez, uma das diretoras da fundação para os direitos civis Human Rights Campaign, Sarah Warbelow, disse que o plano é “profundamente falho”.

Segundo James Esskes, que dirige o projeto LGBT da American Civil Liberties Union, a Primeira Emenda, que protege a liberdade religiosa, “não dá a qualquer um de nós o direito de prejudicar os outros, e é assim que soa a proposta da Igreja Mórmon — ela permitiria que um médico se recusasse a cuidar de uma lésbica por causa de sua crenças religiosas, por exemplo”.

A campanha, no entanto, é o mais recente exemplo de uma mudança de tom em relação aos direitos dos homossexuais da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, que conta 15 milhões de membros em todo o mundo. A religião tem se afastado de sua dura doutrina nos últimos anos, e tem pregado a aceitação de gays e lésbicas, agora que o casamento gay é legal no distrito de Washington e em 36 estados americanos, incluindo Utah.

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