Em dez anos, 465 vítimas – uma a cada semana, em média – procuraram ou foram encaminhadas à Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi) para registrar uma queixa de crime motivado por homofobia em São Paulo. Dados exclusivos obtidos pelo G1 por meio da Lei de Acesso à Informação mostram a radiografia dessas denúncias.
(G1, 13/06/2017 – acesse a íntegra no site de origem)
Introdução
São 393 boletins de ocorrência registrados – feitos durante os dez anos de existência da Decradi, que, em sua essência, investiga crimes sem autoria conhecida.
A delegacia especializada, criada em 2006, foi idealizada anos depois de o adestrador de cães Edson Neris da Silva ser assassinado por um grupo de skinheads na Praça da República, no Centro da capital, por ser homossexual.
Nesses dez anos, foram investigados casos emblemáticos, como o do atentado a bomba na Parada Gay que deixou mais de dez feridos em 2009. Neste domingo (18), a Avenida Paulista será palco da 21ª edição da Parada do Orgulho LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transexuais e Travestis).
O Mapa
O mapeamento feito pela equipe de reportagem mostra todos os casos registrados na Decradi motivados por homofobia.
No mapa, é possível ver detalhes de cada vítima e o respectivo boletim registrado, com o ano, a localidade, a natureza da ocorrência, o sexo e a idade. O levantamento inédito permite identificar onde ocorrem os casos de homofobia na Grande São Paulo.
Para mapeá-los, o G1 teve de fazer um trabalho em parceria com a delegacia que durou mais de quatro meses. Isso porque foram fornecidos pela Secretaria da Segurança Pública à equipe, após o pedido via Lei de Acesso, todos os boletins de ocorrência da Decradi (quase mil), sem diferenciar qual tinha a homofobia como motivação. Foi feito, então, um trabalho minucioso para chegar a cada caso envolvendo o público LGBT na década.
Do total de boletins de ocorrência feitos de 2006 a 2016, 219 viraram inquérito na delegacia especializada – 55% do total. Não há, no entanto, casos de homicídio mapeados, já que a motivação desse tipo de crime só é conhecida durante a investigação.
Um outro agravante (também para as estatísticas) é que a homofobia ainda não é crime no Brasil. Ou seja, as denúncias são enquadradas de acordo com a tipificação do crime correlato. São casos e mais casos de injúria, ameaça, lesão corporal, constrangimento ilegal, entre outros.
Entre as vítimas, há desde um adolescente de 17 anos até um homem de 77 anos. Os principais casos estão circunscritos à região central, onde estão as ruas Augusta e da Consolação e a República e o Largo do Arouche, locais bastante frequentados pelo público LGBT.