Papa Francisco mudou abordagem da Igreja para com pessoas LGBT, diz líder católica nos EUA

23 de abril, 2015

(Opera Mundi, 23/04/2015) Irmã Jeannine Gramick participou de audiência em que o pontífice recebeu grupo de lésbicas e gays no Vaticano em fevereiro: ‘prioridade é mudança de atitude, ações e políticas sobre como católicos tratam pessoas LGBT’

Ao receber um grupo de 49 lésbicas e gays no Vaticano em fevereiro, o papa Francisco conduziu a comunidade de lésbicas, gays, bissexuais e pessoas transgênero para além do penhasco histórico que as separa da Igreja Católica.

O grupo de pessoas LGBT recebido pelo papa Francisco em fevereiro desse ano, com a irmã Jeannine Gramick (atrás da faixa, no centro) (Foto: New Ways Ministry / Facebook)

O grupo norte-americano New Ways Ministry [Ministério Novos Caminhos, em tradução livre], a que pertence a irmã Jeannine Gramick, acolhe esses fiéis e os permite viverem sua fé. “O ensinamento da Igreja não afirma que a orientação homossexual é um pecado”, diz a religiosa.

Gramick integrou o grupo que esteve com o papa Francisco. Para ela, os movimentos do pontífice indicam novos ares na Igreja, capazes de mudar a forma como se vinha pensando religião e sexualidade. “O que foi especial foi o fato de um assessor papal ter nos escoltado até o nível mais alto. Este assento especial foi significativo porque isso não havia acontecido durante os dois pontificados anteriores”, comemora.

Para ela, o ato representa uma acolhida da Igreja. “Significou que a Igreja institucional estava acolhendo um grupo marginalizado e os aproximando de seus representantes. Para aqueles que se sentiam excluídos da Igreja, esse tratamento foi um caloroso abraço”.

Jeannine Gramick pertence à Congregação das Irmãs Escolares de Nossa Senhora, em Baltimore, nos Estados Unidos. Foi professora de Matemática na Faculdade de Notre Dame de Maryland. Enquanto fazia doutorado na Universidade da Pensilvânia, irmã Gramick se tornou amiga de um homem gay e começou um ministério da igreja para lésbicas e gays. Ela organizou serviços religiosos para as pessoas que haviam deixado a Igreja Católica por causa do preconceito contra eles. Ajudou na criação de três organizações de lésbicas e gays católicos e cofundou a organização New Ways Ministry.

Leia a seguir trechos da entrevista com irmã Gramick.

O que significa para o New Ways Ministry participar de uma audiência geral com o papa Francisco?

Todas as pessoas são bem-vindas para participar de uma audiência geral com o papa. O que foi especial para o nosso grupo de lésbicas e gays católicos e simpatizantes foi o fato de um assessor papal ter nos escoltado até o nível mais alto, perto das portas da Basílica de São Pedro.

Nós nos sentamos na mesma plataforma onde papa Francisco estava sentado, a menos de 25 metros de distância dele. Este assento especial foi significativo porque isso não havia acontecido durante os dois pontificados anteriores, quando eu trouxe outros peregrinos, lésbicas e gays, para uma audiência papal.

Para o New Ways Ministry e para as lésbicas e gays católicos e seus simpatizantes, isso significou que a Igreja institucional estava acolhendo um grupo marginalizado e os aproximando de seus representantes. Para aqueles que se sentiam excluídos da Igreja, esse tratamento excepcional foi como um caloroso abraço.

A partir do papado atual, quais são as expectativas que os católicos LGBT manifestaram em relação à sua inclusão e acolhida na Igreja?

Muitos estão esperando uma mudança na ética sexual da Igreja em relação à homossexualidade.

Outros não se importam se a Igreja mudar ou não sua ética sexual, porque eles acreditam que podem expressar a sua sexualidade de forma eticamente responsável.

Outros, ainda, reconhecem que não é realista esperar que a Igreja institucional mude o seu ensino sexual no futuro próximo; eles concordam com o papa Francisco que uma mudança na doutrina não é uma prioridade.

O que é uma prioridade é uma mudança de atitude, ações e políticas sobre a maneira como os católicos tratam as pessoas LGBT. Por exemplo, muitas pessoas LGBT nos Estados Unidos são demitidas de seus postos de trabalho em instituições católicas quando se casam com seus parceiros. Sua esperança é que essas demissões, bem como ações similares que desrespeitam os direitos humanos, terminem. Em 2013, havia 17.900 paróquias nos EUA, mas apenas cerca de 200 eram consideradas amigáveis aos LGBT. Muitos esperam que esse número aumente, de modo que, no fim, todas as paróquias possam ser amigáveis aos LGBT.

Existe alguma expectativa de que a Igreja mude a sua doutrina, de forma que a homossexualidade não seja mais pecado?

Primeiro, precisamos entender o que o ensinamento tradicional da Igreja Católica afirma, na verdade, sobre a homossexualidade. O ensinamento não afirma que a orientação homossexual é um pecado. O Catecismo da Igreja Católica afirma que a orientação homossexual é “objetivamente desordenada”. Esse é um julgamento filosófico, não moral. O Catecismo afirma, ainda, que os atos homossexuais são “intrinsecamente desordenados” e “contrários à lei natural”.

Esse é um julgamento moral ou ético sobre as ações, e não sobre a orientação nem sobre a pessoa. O pecado de qualquer ato imoral depende do fato de se a pessoa se envolveu em uma reflexão suficiente e deu pleno consentimento da vontade. Aqui, podemos dizer, com razão, com o papa Francisco: “Quem sou eu para julgar?”, porque só Deus sabe se a ação da pessoa é um pecado.

Em segundo lugar, é preciso estar ciente das posições teológicas católicas atuais sobre a homossexualidade. A maioria dos moralistas católicos, hoje, não concorda com a avaliação moral tradicional da homossexualidade. Suas divergências se centralizam em suas avaliações de orientação e comportamento.

Por exemplo, alguns teólogos morais, que não concordam com o ensino tradicional, sustentam que o comportamento homossexual é moralmente admissível no contexto de um relacionamento amoroso e fiel, mas acham que uma orientação homossexual não é tão boa quanto uma heterossexual.

Outros teólogos morais, que não concordam com o ensino tradicional, também afirmam que o comportamento homossexual é moralmente admissível no contexto de um relacionamento amoroso e fiel, mas ensinam que a orientação homossexual é tão boa quanto uma heterossexual.

Em terceiro lugar, é preciso estar ciente do que a comunidade católica, ou seja, o Povo de Deus, acredita sobre a homossexualidade. As crenças e as atitudes dos católicos e de outras pessoas de fé muitas vezes seguem a cultura ou a sociedade em que vivem. Segundo uma pesquisa de 2013, do Centro de Pesquisas Pew, existe uma aceitação generalizada da homossexualidade na América do Norte, América Latina e Europa, exceto na Polônia, Rússia, Bolívia e El Salvador. Há uma forte rejeição da homossexualidade no Oriente Médio, Ásia e África, com exceção da Austrália, Filipinas, Japão, Coreia do Sul, Israel e África do Sul.

O mesmo estudo descobriu que há menos aceitação da homossexualidade nos países onde a religião é importante na vida das pessoas, mas também mostrou grande aceitação das pessoas LGBT em alguns países fortemente católicos. É difícil determinar se a religião ou a cultura é o principal responsável para as atitudes das pessoas. Aqui nos Estados Unidos, 51% dos católicos apoiam a legalização do casamento homossexual.

Como eu disse anteriormente, muitas pessoas LGBT e seus apoiadores têm esperança de que haverá uma mudança no ensino oficial da Igreja sobre a homossexualidade. Outros dizem que a mudança já está acontecendo na comunidade teológica e entre os milhões e milhões de católicos em todo o mundo. Eles falam da necessidade de diálogo com os líderes da Igreja para que uma mudança oficial possa ser feita.

Qual foi o impacto da declaração de que se uma pessoa é homossexual e busca a Deus, quem é o papa para julgá-la?

A pergunta do papa Francisco “Quem sou eu para julgar?” eletrizou o mundo. Ele enviou uma mensagem inovadora de que a Igreja Católica está suavizando a sua dura posição contra as pessoas LGBT. Aqui nos EUA, a maior publicação LGBT, The Advocate, deu ao papa Francisco o título “Personalidade do Ano” em 2013. O assento especial que nossos peregrinos receberam na audiência com o papa Francisco na Quarta-Feira de Cinzas foi um exemplo de como o papa, por suas declarações e ações, mudou a abordagem da Igreja para com as pessoas LGBT. Por causa do nosso tratamento especial na audiência papal, alguns peregrinos me disseram que estavam voltando para a Igreja.

As palavras do papa Francisco têm impactado não só as pessoas LGBT, mas também os líderes da Igreja. Por exemplo, no fim de 2014, em um jornal belga, o bispo Johan Bonny declarou que o ensino oficial deve reconhecer as relações do mesmo sexo. Ele também disse que o espírito de mente aberta do papa Francisco deu-lhe a coragem de falar sobre questões pastorais prementes da atualidade.

No início de março de 2015, os bispos católicos das Filipinas aprovaram um projeto de lei de não discriminação LGBT, invertendo sua posição anterior. Talvez essa reversão se deva à recente visita do papa Francisco às Filipinas e à sua mensagem em curso sobre a misericórdia. Eu acredito que veremos outros exemplos no futuro com o mesmo impacto da pergunta do papa Francisco.

“O amor faz a família”: Católicos pelo Casamento Igualitário em Seattle, nos EUA, em 2012 (Foto: Natasha Tucker / Flickr CC)

Qual é a posição da ala conservadora da Igreja com relação à posição do papa Francisco sobre esse assunto?

A ala conservadora da Igreja não está satisfeita com o papa Francisco desde o dia seguinte à sua eleição. Sua insatisfação decorre não só da sua atitude mais acolhedora para com as pessoas LGBT, mas também da sua acolhida a todos os tipos de pessoas que estão às margens da Igreja, do seu desejo de voltar ao espírito do Concílio Vaticano II e das suas declarações doutrinais relegadas como menos importantes do que o Evangelho de Jesus.

Por que casais homossexuais não foram convidados para o Sínodo dos Bispos para que eles pudessem falar sobre sua fé e sexualidade?

Eu não sei. Para o Sínodo Extraordinário dos Bispos de 2014, casais heterossexuais foram convidados a falar sobre suas experiências, mas não casais de lésbicas ou gays.

Fiquei impressionada quando o casal heterossexual da Austrália falou dos filhos de lésbicas e gays de uma forma simpática e quando Dom Mario Grech, bispo de Malta, pediu a aceitação das pessoas LGBT na Igreja. Outros, assim como eu, têm sugerido que, para o Sínodo Ordinário dos Bispos de 2015, as pessoas LGBT sejam convidadas a falar. Vamos ver se isso acontece.

Historicamente, qual é a posição da Igreja Católica e das outras duas religiões monoteístas em relação à homossexualidade e à prática da fé?

Durante quase 20 séculos, o magistério da Igreja Católica tratou a homossexualidade só do ponto de vista da ética sexual. Na maior parte desse tempo, só se falou sobre os atos homossexuais, e estes eram proibidos. No fim do século 19, cientistas determinaram que atos homossexuais eram inadequados; por vezes, eles pareciam confusos em compreender uma pessoa homossexual; a orientação sexual, segundo eles, era o que fazia uma pessoa homossexual.

O magistério católico não se referiu a uma orientação homossexual até a década de 1980, e era julgada objetivamente desordenada. Desde 1980, o magistério católico reconheceu que não se deve falar das pessoas homossexuais apenas em termos de “atos” e “orientação”. Vários documentos da Igreja falam de dignidade, respeito, justiça e cuidado pastoral para com uma pessoa homossexual. Esses documentos refletem o ensino sobre a justiça social da Igreja; infelizmente, o ensino da justiça social da Igreja não recebe tanta atenção quanto a sua doutrina sobre a ética sexual na área da homossexualidade.

O judaísmo ortodoxo geralmente proíbe a conduta homossexual. O judaísmo conservador vem discutindo as questões homossexuais desde a década de 1980. Em 2012, o ramo norte-americano do judaísmo conservador aprovou formalmente as cerimônias de casamento do mesmo sexo.

A maioria dos rabinos conservadores fora dos EUA rejeita essa abordagem liberal. O maior ramo do judaísmo na América do Norte, o movimento do judaísmo reformista, aceita a ordenação de lésbicas, gays e bissexuais como rabinos. O movimento judaico reconstrucionista acredita que a homossexualidade e a bissexualidade são expressões sexuais normais e congratula-se com gays, bissexuais e lésbicas para participarem plenamente em todos os aspectos da vida em comunidades reconstrucionistas.

No Islã, a homossexualidade é afetada não só pela religião, mas também pelo sistema jurídico e cultural dos países com uma população muçulmana significativa. A homossexualidade é considerada não só um pecado, mas também um crime sob a lei islâmica. As punições são diferentes entre as escolas de jurisprudência; no entanto, todos concordam que a homossexualidade é digna de uma pena severa (por exemplo, surra, prisão ou morte).

Parte dos muçulmanos, ainda hoje, acredita que este tratamento cruel às pessoas LGBT é justificado. Na maior parte do mundo islâmico, a homossexualidade não é socialmente aceita, e até mesmo os muçulmanos moderados, que vivem principalmente no mundo ocidental, consideram a homossexualidade como algo ofensivo e indesejável.

Qual é o motivo das condenações de pessoas homossexuais encontradas na Bíblia?

Os atos homossexuais, não as pessoas homossexuais, são condenados na Bíblia. A base para a condenação desses atos é a lei natural. Os autores bíblicos acreditavam que todas as pessoas eram orientadas à heterossexualidade; eles pensavam que não era natural para os heterossexuais envolver-se em um comportamento com pessoas do mesmo sexo.

A condenação dos atos homossexuais, seja nas Escrituras Hebraicas, seja nas Epístolas de São Paulo, baseia-se em uma compreensão limitada da sexualidade na cultura daquela época. Os escritores da Escritura de 2000 a 3000 anos atrás não tinham conhecimento de que algumas pessoas são constitucionalmente atraídas aos membros de seu próprio gênero.

Nosso conhecimento da psicologia e das várias facetas da personalidade humana é imensamente diferente hoje do que era durante o tempo de São Paulo ou dos escritores do Gênesis e do livro de Levítico. A evidência científica atual de que a homossexualidade e a bissexualidade são orientações sexuais inatas exige novas interpretações dessas passagens. Se essa informação científica estivesse disponível, talvez São Paulo não teria julgado os atos homossexuais tão gravemente, ou até mesmo nem os teria julgado.

Temos de evitar a tendência de interpretar restritivamente os textos que condenam o comportamento do mesmo sexo, porque não somos consistentes sobre interpretações rigorosas. As Escrituras hebraicas, por vezes, condenam certas atividades sexuais, como as relações conjugais durante o período menstrual da mulher, algo que já não consideramos errado. Da mesma forma, as Escrituras permitem algumas práticas que já não aceitamos, como a pena de morte para pessoas adúlteras. A erudição bíblica atual ajudou enormemente a colocar as passagens em um contexto histórico e cultural adequado. Um estudioso da Bíblia disse que não há ética sexual bíblica, apenas uma ética do amor bíblico.

Será que falar sobre a inclusão implica receber pessoas LGBT em comunidades da Igreja e também uma nova interpretação da reflexão teológica anterior sobre a homossexualidade?

Existem diferentes maneiras em que as pessoas LGBT podem ser incluídas na Igreja. Por exemplo, seja privada ou publicamente, um pároco ou coordenador pastoral de uma paróquia pode falar do púlpito sobre o acolhimento às pessoas LGBT na paróquia. Essas palavras, vindas da liderança, são boas, mas não suficientes. Os membros da comunidade paroquial precisam fazer as pessoas LGBT sentirem que são parte integrante da paróquia.

Muitas pessoas LGBT se sentem em casa na sua paróquia, mas muitas vezes a sua orientação sexual ou identidade de gênero é conhecida apenas por alguns paroquianos. Muitos acham que vão ser demitidos ou não convidados a participar dos ministérios da Igreja, como ministros da Eucaristia, leitores, diretores musicais, membro do coral ou membros do conselho paroquial, a menos que escondam que são LGBT.

Houve um incidente em Viena, em 2013, que mostra a situação precária das pessoas LGBT que trabalham na Igreja. Um homem, que vivia em uma união civil com seu parceiro, foi eleito para atuar no conselho paroquial. Quando o pároco bloqueou a sua eleição, o homem pediu para ver o cardeal Christoph Schönborn, arcebispo de Viena. O arcebispo convidou o homem e seu parceiro para um almoço, e ficou impressionado com o seu compromisso de fé, humildade e dedicação à Igreja. O cardeal reintegrou o homem ao conselho. Infelizmente, nem todas as situações acabam com um final feliz quando as pessoas LGBT “saem do armário” na Igreja.

Além de aceitar as pessoas LGBT em comunidades eclesiais, a inclusão exigirá uma reflexão teológica que acabará resultando em novas interpretações sobre a homossexualidade; no entanto, serão necessários muitos anos antes que essas novas interpretações se tornem parte da doutrina oficial da Igreja.

Em que medida deve o discurso cristão sobre a família ser repensado a partir das experiências das pessoas LGBT?

Em setembro de 2015, famílias católicas de todo o mundo irão se encontrar na Filadélfia para o Encontro Mundial das Famílias. Essa conversa pública sobre a família precisa incluir todos os tipos de famílias: com membros divorciados, monoparentais, de pais heterossexuais com filhos lésbicas ou gays, de casais do mesmo sexo com seus filhos biológicos ou adotados, com membros transgênero ou intersexuais.

O tema do Encontro Mundial das Famílias é “O amor é a nossa missão: a família plenamente viva”. Minha prece é que todos esses tipos de famílias mostrem ao mundo como o amor faz uma família. Os nossos bispos, especialmente, precisam ouvir as suas experiências e levar essa nova compreensão sobre a diversidade da família para suas deliberações de outubro, em Roma, para o Sínodo Ordinário sobre a família.

Eu conheço muitos católicos gays e lésbicas que estão comprometidos uns com os outros em relações monogâmicas amorosas de longo prazo. Muitos desses casais são bons pais, criando os filhos com princípios morais. Como podemos dizer que as suas relações familiares são menos sagradas aos olhos de Deus do que as de um casal heterossexual e seus filhos? Certamente, as pessoas LGBT devem ser uma parte essencial desse discurso sobre a família.

Márcia Junges e João Vitor Santos

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