(G1, 06/08/2016) Estudo liga letras misóginas a comportamento agressivo. Hits de Eminem e Offspring foram alvos; música também pode evitar violência.
Quando o tema é machismo, o quanto a vida imita a canção? Será que músicas com mensagens agressivas contra as mulheres podem levar um ouvinte a ser ainda mais violento contra elas na vida real? Podem sim, segundo pesquisas de Tobias Greitemeyer, doutor em Psicologia Social e professor da Universidade de Innsbruck, na Áustria.
Conheça as pesquisas no vídeo acima.
Os resultados podem contribuir com discussões cada vez mais comuns sobre machismo em músicas, no Brasil e no mundo. O funk carioca “Tapinha não dói” é alvo de um longo processo contra a produtora Furacão 2000 por incitar a violência contra a mulher. Nos EUA, o hit “Blurred lines”, de 2013, foi alvo da ira de feministas e chamado de “a canção mais controversa da década” pelo jornal “The Guardian”. Neste ano, o funk “Mais de 20 engravidou” foi citado em investigação de estupro coletivo no Rio.
Greitemeyer publicou os estudos entre 2006 e 2015. Nas pesquisas, voluntários eram convidados a ouvir músicas que incluíam algumas letras consideradas misóginas, como “Superman”, de Eminem, e “Self esteem”, do Offspring .
Durante a audição das músicas, os participantes respondiam a algumas questões e realizavam tarefas. Eles não sabiam que a pesquisa era sobre misoginia, e achavam que estavam fazendo um desafio de ouvir músicas e fazer outras atividades ao mesmo tempo.
Os homens marcaram atributos mais negativos em perguntas sobre o sexo feminino e expressaram mais desejo de vingança enquanto estavam ouvindo as letras machistas, mostra artigo publicado por Greitemeyer e por Peter Fischer, da Universidade de Munique.
“Nossa pesquisa mostrou que músicas misóginas fazem aumentar reações agressivas dos homens contra mulheres mulheres”, descrevem os autores no artigo.
Pimenta
Uma parte do estudo usou pimenta para indicar o comportamento dos ouvintes. Entre tarefas aleatórias, foi pedido que eles temperassem o lanche de uma mulher. Eles eram informados de que a mulher em questão não gostava de comida muito apimentada. Quem estava ouvindo letras como a de Eminem colocou mais molho de pimenta do que os outros.
Na pesquisa, as mulheres também mostraram comportamento mais agressivo em relação aos homens ao ouvir letras de cantoras com mensagens negativas sobre eles, como “You oughta know”, de Alanis Morissette. Mas o aumento da agressividade foi menor que o dos homens, cujo comportamento foi estudado com mais profundidade.
“A pesquisa focou no impacto de músicas misóginas no comportamento agressivo de homens em relação às mulheres porque este tipo de agressão é um problema muito mais sério e frequente na sociedade do que de mulheres contra homens”, explicam os pesquisadores.
Os psicólogos também indicam que pode haver um “efeito acumulado” nesta tendência agressiva de homens acostumados a ouvir músicas com teor machista.
“O que se pode dizer sobre o feito na vida real, onde homens provavelmente ouvem a centenas de canções misóginas ao longo da vida? O efeito pode ser ainda mais forte e pode levar a um comportamento agressivo ainda mais severo contra a mulher, como estupro e outras formas de violência”, dizem.
Igualdade também ‘pega’
Outra conclusão, em estudos relacionados de 2015, foi a de que músicas com letras pró-igualdade de gênero têm efeito positivo no comportamento menos violento entre homens e mulheres. O artigo é de Greitemeyer junto com Jack Hollingdale, da Universidade de Sussex, na Inglaterra, e Eva Traut-Mattausch, da Universidade de Salzburg, na Áustria.
Nos experimentos, semelhantes aos primeiros, voluntários ouviam músicas com letras que exaltam a igualdade de gêneros, como as homônimas “Respect”, de Aretha Franklin e da banda Train. Entre tarefas diversas durante a audição, eles avaliavam atributos gerais do sexo oposto. Os resultados eram melhores quando eles ouviam estas músicas.
A exposição do ouvinte às letras, segundo as pesquisas, “pode não só piorar a atitude e o comportamento em relação à mulher, mas também pode ser efetivamente usada para melhorar maneira como o homem percebe e trata as mulheres”, concluem os autores.
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