‘Não aceito que usem minha história em discursos que negam direitos’, afirma Maria da Penha

25 de agosto, 2025 ICL Notícias Por Laura Kotscho

No mês do Agosto Lilás, Maria da Penha, que dá nome à lei, comenta os recentes ataques da extrema direita e reforça a importância da resiliência na luta pelos direitos das mulheres.

Em agosto, mês dedicado à conscientização sobre a violência contra a mulher, a Lei Maria da Penha completa 19 anos como um marco histórico na defesa dos direitos femininos no Brasil. Criada em 2006, a legislação foi responsável por estabelecer medidas protetivas e endurecer penas contra agressores, salvando milhares de vidas desde então.

Mas o cenário ainda é preocupante. Dados do Instituto Fogo Cruzado apontam que, apenas em 2025, pelo menos 29 mulheres foram vítimas de feminicídio ou tentativa de feminicídio com arma de fogo até a primeira quinzena de agosto, um aumento de 45% em relação ao mesmo período do ano passado.

Em meio a essa realidade, a própria Maria da Penha, que dá nome à lei, passou a ser alvo de ataques recentes. Produções do grupo Brasil Paralelo passaram a questionar sua trajetória e a relevância da legislação, espalhando desinformação na tentativa de enfraquecer a luta contra a violência de gênero.

Em entrevista exclusiva ao ICL Notícias, Maria da Penha comenta esses ataques, reflete sobre os avanços e desafios da legislação e fala sobre como o país pode enfrentar o crescimento da violência contra as mulheres.

Entrevista com Maria da Penha

ICL Notícias – A Lei Maria da Penha completou quase duas décadas. Há algum ponto que a senhora acredita que precise ser reformulado ou atualizado diante das novas formas de violência, como a violência digital?

Maria da Penha – A violência contra a mulher se adapta às tecnologias e às mudanças sociais. Quando a Lei Maria da Penha foi criada, em 2006, a violência digital ainda não tinha a dimensão que vemos hoje. Por isso, acredito que a lei deve estar sempre em diálogo com a realidade. Nos últimos anos, o Brasil avançou com leis específicas, como a que tipifica a violência psicológica e o crime de perseguição (Stalking), por exemplo.

Nosso desafio é integrar a proteção, de forma que essas “novas” estratégias da violência sejam adequadamente tratadas no fluxo de atendimento e proteção às mulheres, garantindo que polícia, Justiça e serviços especializados atuem com rapidez também no ambiente digital.

O Brasil ainda registra números altíssimos de feminicídio. Esse ano bateu recorde de notificações. O que falta para que a lei seja de fato aplicada em sua totalidade?

A Lei Maria da Penha é uma das melhores do mundo, segundo a ONU, mas nenhuma lei se cumpre sozinha. Faltam muitas coisas, uma delas é o investimento contínuo para sua plena aplicação.

Precisamos de mais delegacias especializadas, equipes treinadas, casas-abrigo, serviços de apoio psicológico e jurídico — e isso em todos os municípios, não apenas nas capitais ou grandes cidades.

Tenho falado recorrentemente sobre os pequenos municípios, chamando a atenção da sociedade para essa lacuna. Não é que as grandes cidades não tenham situações de violência, pelo contrário. É que muitas pequenas cidades no Brasil não dispõem de nenhum lugar de referência, centro especializado ou qualquer ação estratégica de prevenção à violência. É algo que me preocupa muito.

A interiorização é urgente! Além disso, é preciso que o sistema de justiça atue com agilidade. Uma medida protetiva que demora para ser concedida pode custar a vida de uma mulher.

Acesse a entrevista no site de origem.

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