(Folha de S.Paulo/O Estado de S. Paulo/Época) A promotoria elega que a camareira alterou seu depoimento sobre os momentos seguintes ao incidente e que isto enfraqueceu seu testemunho. Veja a seguir a repercussão do caso na imprensa:
Falso testemunho em denúncia de estupro livra Strauss-Kahn de prisão (O Estado de S. Paulo – 02/07/2011)
(Gustavo Chacra, correspondente, Nova York)
“Inicialmente, a suposta vítima disse ter ficado escondida no corredor depois do suposto estupro, no dia 14 de maio, esperando Strauss-Kahn deixar o quarto, antes de avisar os seus superiores. Na nova versão, a camareira teria, na realidade, admitido ter limpado uma outra suíte ao lado e ainda retornado para o quarto do diretor do FMI antes de contar o que teria ocorrido para outros funcionários do hotel”.
“Entendo que as circunstâncias nesse caso se alteraram substancialmente”, disse o juiz Michael Obus. Os promotores afirmaram que ainda acreditam ter havido estupro. O problema, segundo eles, seria defender o argumento para jurados depois de a credibilidade da vítima ter sido afetada.
Ex-diretor do FMI é solto após reviravolta (Folha de S.Paulo – 02/07/2011)
(Alvaro Fagundes, de Nova York)
“Os procuradores continuam a afirmar que acreditam que o ex-diretor do FMI atacou a camareira, mulher de 32 anos vinda da Guiné (oeste da África).
Mas admitem que as contradições apresentadas nos depoimentos podem tornar difícil para os jurados considerar o francês culpado.
A força do caso foi afetada por questões de credibilidade”, disse a procuradora Joan Illuzzi-Orbon.
A mudança ocorreu depois que a Procuradoria afirmou que a camareira mentiu não só sobre detalhes que ocorreram após o suposto ataque, em 14 de maio, como também sobre seu passado”.
Telefonema de camareira levou a suspeita no caso Strauss-Kahn (Folha de S.Paulo – 03/07/2011)
“Ela diz: ‘Não se preocupe, esse cara [Strauss-Kahn] tem muito dinheiro. Eu sei o que estou fazendo’, diz um funcionário da Procuradoria, de acordo com o jornal.
O telefonema teria sido gravado e a tradução concluída na última quarta-feira. A camareira e o namorado se falaram em fulani _ idioma da Guiné, país no oeste africano, de onde vem a suposta vítima.
O ‘New York Times’ diz que o telefonema levanta mais um problema em torno da acusação porque indica que a camareira pretendia lucrar com o que teria ocorrido na suíte do hotel.”
Repúblicas de bananas, por Eliane Cantanhêde (Folha de S.Paulo – 05/07/2011)
(A jornalista Eliane Cantanhêde é colunista da sucursal da Folha de S.Paulo em Brasília)
“Um estrangeiro poderoso é acusado de estupro por uma mulher negra, jovem e bonita da Guiné, camareira num hotel de muitas estrelas na cidade mais cosmopolita do mundo. E eis que, num estonteante cavalo de pau, o réu passa a vítima, e a vítima, a ré. Na nova direção desse bólido policial-jurídico-político, a camareira é uma mentirosa que recebe sacos de dólares de bandidos.
Nunca vai se saber exatamente o que ocorreu dentro daquele quarto de hotel, mas já se sabe o quão frágil é o limite entre justiça e injustiça mesmo em duas das democracias mais consolidadas do mundo.”
Próximos lances, por Míriam Leitão (O Globo – 02/07/2011)
(Míriam Leitão é jornalista econômica e colunista de O Globo)
“Ainda que o processo desmorone pelas contradições apresentadas pela camareira na investigação, durante os últimos meses outras mulheres disseram ter sido assediadas por ele. Na França, não há a mesma obsessão pela vida privada dos políticos, pelo contrário, mas este caso é público e tratado de forma espetacular desde o início: o mundo inteiro o debate. Pelo teor da carta dos promotores aos advogados de DSK, sabe-se que a camareira do hotel do grupo francês Sofitel, em Nova York, mentiu seguidamente para as autoridades americanas e mudou suas versões sobre o que houve no quarto 2806. Mas nada do que está ali impede que seja verdadeira sua acusação de ter sido atacada. A dúvida vai pairar sempre durante a campanha.
O caso é tão rumoroso que pode ter novos surpreendentes desdobramentos que mais lembrarão os inverossímeis lances de um folhetim, mas o que já se sabe é que: o FMI agora é dirigido por uma mulher pela primeira vez, que provavelmente ela será sucedida por um não europeu porque o reinado do continente caducou, e que a eleição da França de 2012 será mesmo emocionante.”
Criminoso ou vítima?, por Gilles Lapouge (O Estado de S. Paulo – 02/07/2011)
(Gilles Lapouge é correspondente em Paris)
“Vamos aguardar o julgamento. Não devemos ir muito rápido, declarando a mulher perversa ou proclamando o seu candor. Esse caso é medonho, inverossímil. Não vamos acrescentar nossas incertezas a uma história já muito obscura, fascinante, mas terrível. O que é de imaginar é que, desde ontem, já se começou a trabalhar em Hollywood na captura de uma realidade que galopa mais rápido do que a imaginação do mais desbocado dos roteiristas americanos.
O quarto 2806 tornou-se uma gigantesca fábrica de fantasias. De todo o tipo. Sexuais, é claro. Étnicas (o branco e a negra). Sociais (o rico poderoso e a pobre humilhada). Políticas (o socialista DSK contra o homem de direita Sarkozy). E feministas, porque, no mundo inteiro, mulheres denunciaram o comportamento do francês, ao mesmo tempo em que milhões de porcos chauvinistas vilipendiaram a mulher negra e uma simples camareira, que estava fazendo muita história por causa de um simples e banal “passar de mão”.
A lição do caso Strauss-Kahn, por Ruth de Aquino (Época – 07/07/2011)
(Ruth de Aquino é colunista da revista Época)
“Talvez a única “mocinha” seja a mulher de DSK, Anne Sinclair, que ficou a seu lado, leal e fiel. Um leitor me pediu para discorrer sobre o que leva uma mulher a sorrir para as câmeras depois de sofrer uma traição pública. Eis algo surpreendente. Que homem no mundo pagaria a fiança e celebraria a libertação de sua mulher num restaurante caro se ela admitisse ter feito sexo consensual com o faxineiro?”
Análise: Cobertura do caso nos EUA seguiu jogo dos estereótipos, por Nelson de Sá (Folha de S.Paulo – 02/07/2011)
“Ser um homem branco e rico põe em desvantagem nessa situação”, aponta editor do “Le Monde”
“O rico francês que estuprou a pobre camareira africana, na narrativa abraçada pelos tabloides nova-iorquinos, com eco em jornais de prestígio mundo afora.
Até que ontem, em manchete, o “New York Times” publicou que o próprio procurador Cyrus Vance, que antes via o relato da suposta vítima como “consistente”, agora tinha “dúvidas sobre a acusadora”. Ela teria mentido seguidamente.
Na França, ‘Libération’ e ‘Le Monde’ descreveram a reviravolta com a mesma expressão, ‘coup de théâtre’, golpe de teatro, referência à mudança brusca e sem explicação da narrativa.
E o editor do ‘Monde’ disse que, ‘sem contrapeso, a dupla Justiça-Imprensa pode criar um fervor devastador’.
Nos EUA, uma feminista que havia se empolgado na condenação de DSK, na ‘New Yorker’, dizia agora estar evitando ‘julgar, tendo feito isso com entusiasmo’, do que se arrepende:
‘Eu tinha ‘certeza’ que DSK era culpado. Estava orgulhosa da polícia por defender uma mulher pobre, sem poder, contra um homem rico e poderoso. Cega pelos estereótipos, talvez’.
O editor francês e a ensaísta americana, agora, evitam prejulgar. Já o tabloide ‘New York Post’ garante, agora, que noticiou semanas atrás os questionamentos à credibilidade da suposta vítima.”
E agora, FMI?, por Paulo Moreira Leite (Época – 02/07/2011)
“Apenas setenta e duas horas depois da escolha de Christine Lagarde para a direção de uma das principais instituições financeiras do planeta, os promotores de Nova York admitem ter encontrado várias contradições e inconsistencias na denúncia contra Strauss-Khan. A credibilidade da mulher que se apresenta como sua vítima encontra-se perto de zero.
Muitas pessoas, hoje, denunciam a postura da Justiça americana e da mídia no caso de Strauss-Khan. A primeira é acusada de agir de modo truculento. Está certo. Também se viu uma incompetencia espantosa. A Justiça levou um mes e meio para traduzir um grampo telefonico onde, logo depois de fazer a denúncia, a camareira conversava num dialeto africano com um cidadão preso por tráfico de drogas, sugerindo que estava no controle da situação e podia até ganhar um bom dinheiro com a história.
Não é possível, até agora, saber o que ocorreu exatamente na suite de Strauss-Khan. Ele pode, sim, ser culpado. A camareira pode ser uma pessoa que conta mentiras, comete fraudes no imposto de renda, pode ter amizades pouco recomendáveis e pode até tentar tirar proveito financeiro de um ataque sexual — e mesmo assim pode estar falando a verdade e o ataque pode ter ocorrido. Não discuto isso.
É muito provável que, no momento em que Lagarde foi confirmada em seu posto, nos bastidores da Justiça americana já se soubesse das novidades sobre o caso. Curioso, não?”