04/05/2012 – Estupros crescem mais no interior de SP que na capital

04 de maio, 2012

(Maráilia Rocha, da Folha de S.Paulo-Campinas) População aumentou e vítimas estão denunciando mais, afirma delegada. No ano passado, do total de ocorrências no Estado, 56% foram registradas no interior e 23% na capital paulista

Os registros de estupros cresceram mais no interior de São Paulo do que na capital nos últimos dez anos -o número mais do que triplicou no interior, enquanto não chegou nem a dobrar na capital.

O crescimento da população sem um aumento proporcional de políticas públicas e a maior disposição das vítimas para a denúncia são possíveis explicações para o índice.

Dados da Secretaria da Segurança Pública mostram que a concentração de denúncias no interior (que inclui também o litoral) vem crescendo.

Do total de ocorrências registradas no Estado em 2001, 46% estavam no interior, porcentagem que subiu para 56% no ano passado. A capital tinha 33% dos casos, índice que caiu para 23%. Já a Grande SP passou de 22% para 21%.

Para a delegada responsável pela Delegacia de Defesa da Mulher de Campinas, Cássia Afonso, as vítimas estão denunciando mais e os órgãos têm atuado em conjunto (entidades de saúde que identificam estupros podem registrar ocorrências, por exemplo).

A socióloga Eva Blay, professora da USP e militante feminista, destaca a mudança no comportamento das vítimas. “Antes, o interior escondia mais a violência, o estupro. A coragem de denunciar chegou a essas cidades.”

A pesquisadora Angelina Lettiere, mestre pela USP de Ribeirão Preto em violência contra a mulher, concorda que as mulheres estão “mais pró-ativas” na busca por ajuda.

Outro fator é o crescimento populacional comparativamente menor na capital, que também pode gerar essa “desproporção”, diz Afonso.

Segundo o último censo do IBGE, em 2010, a população de São Paulo cresceu 7,8% em relação a 2000, menos do que em cidades como Campinas (11,5%) e Sorocaba (18,8%).

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Polícia

Em nota, a Coordenadoria das Delegacias de Defesa da Mulher informou que as ações da Polícia Civil são as mesmas em “qualquer município”. Há mais denúncias, segundo a coordenadoria, quando se tem mais acesso a informação e redes de apoio.

Mesmo com a concentração dos registros de estupros fora da capital, a capitão Glauce Cavalli, porta-voz de um dos comandos da Polícia Militar no interior, avalia que o trabalho da PM é “suficiente”, já que o comandante de cada área redimensiona o policiamento de acordo com os índices criminais do local.

Desde agosto de 2009, “ato libidinoso” é considerado estupro. Com a alteração, mais gente pode ser considerada vítima de estupro (inclusive homens), aumentando a abrangência de casos.

Faltam políticas públicas, afirma professor da Unesp
Ainda que as mulheres estejam mais dispostas a denunciar, a maior concentração de casos no interior é resultado do descompasso entre crescimento populacional e políticas públicas, afirma o professor da pós-graduação de Ciências Sociais da Unesp em Araraquara Augusto Caccia-Bava.
Como exemplo dessas políticas, ele cita palestras em escolas, acompanhamento das vítimas por especialistas e formação de um setor da Polícia Militar especializado em enfrentar a agressão sexual.
Para Caccia-Bava, que coordena um grupo de pesquisa sobre segurança urbana do CNPq em algumas cidades do interior existem estruturas públicas e profissionais competentes, mas as práticas de violência crescem mais e as políticas de proteção de pessoas ficam desordenadas, passando a sensação de impunidade.
Esse foi um dos motivos para A. S., 30, não ter denunciado seu ex-marido. Ela, que não quer ser identificada, conta que casou com 15 anos e passou 13 anos com o pai de seu filho. Durante esse período, sofreu agressões e abuso sexual.
“Na prática, ainda não há Justiça ou proteção para mulheres e crianças. Sei que não iria adiantar nada denunciar meu ex porque não haveria empenho para puni-lo. Os recursos para investigação são poucos, e o apoio à vítima ainda é restrito”, afirma.

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Leia também:  A cada meia hora, uma mulher é agredida em SP (Band.com – 02/05/2012)

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