04/07/2011 – Homossexuais sul-africanas sofrem com onda de ‘estupros corretivos’

04 de julho, 2011

(BBC Brasil) Uma onda de casos de estupro e assassinatos cometidos por homens contra mulheres homossexuais, aparentemente com o objetivo de “corrigir” suas orientações sexuais, está assustando a África do Sul. Estima-se que pelo menos 31 mulheres já tenham morrido vítimas desse tipo de ataque nos últimos dez anos.

Mais de dez lésbicas são estupradas por semana apenas na Cidade do Cabo (sul do país), segundo a Luleki Sizwe, uma organização de apoio a vítimas de violência sexual. Muitos outros casos não são relatados – porque as vítimas têm medo que a polícia as ridicularize ou que seus agressores voltem a procurá-las, explicou Ndumie Funda, fundadora da Luleki Sizwe.

Vítimas

Em 2008, teve forte repercussão o ataque à ex-jogadora de futebol e ativista dos direitos homossexuais Eudy Simelane, que foi estuprada por uma gangue e esfaqueada 25 vezes no rosto, no tórax e nas pernas. Dois dos acusados foram condenados pela Justiça, e outros dois foram absolvidos.

Relatos de vítimas que foram ridicularizadas por policiais também são constantemente relatados pela comunidade homossexual do país. “Alguns policiais dizem: ‘Como você pode ser estuprada por um homem se não se sente atraída por eles?’ Eles pedem que você explique como se sentiu ao ser violentada. É humilhante”, contou Thando Sibiya, homossexual da comunidade de Soweto, em Johanesburgo.

‘Não-africano’

Para alguns, a origem do problema está nos bolsões conservadores da sociedade africana que não aceitam a homossexualidade, em especial entre mulheres. “As sociedades africanas ainda são patriarcais. Ensinam às mulheres que elas devem se casar com homens, e qualquer coisa que escape disso é vista como errada”, declarou Lesego Tlhwale, do grupo de defesa dos direitos dos homossexuais africano Behind the Mask.

“O casamento entre duas mulheres é visto como algo não-africano. Alguns homens se sentem ameaçados por isso e tentam ‘consertar’ (a situação).” 

Nas ruas de Johanesburgo, é fácil encontrar homens que apoiem a ideia do “estupro corretivo”. “É como se (as lésbicas) estivessem dizendo a nós, homens, que não somos bons o suficiente”, opinou Thulani Bhenu à BBC.

Ela notou que as mulheres que foram mortas nos ataques recentes são descritas como masculinizadas. “(Os agressores) dizem que elas estão roubando suas namoradas. É um senso distorcido de posse e uma necessidade de proteger sua masculinidade.”

A África do Sul é o único país do continente – e um de apenas dez no mundo – que legalizou o casamento homossexual. A Constituição proíbe especificamente qualquer tipo de discriminação por orientação sexual. Mas, na prática, o preconceito permanece comum.

Condenação

Pouquíssimos casos de agressões contra lésbicas resultaram em condenações judiciais. Ninguém sabe ao certo quantos dos 50 mil casos de estupro reportados anualmente na África do Sul são cometidos contra homossexuais, já que a orientação sexual das vítimas não é registrada.

Também está em debate a adoção de penas mais duras para casos em que a orientação sexual da vítima seja um fator determinante no crime.

Veja essa notícia na íntegra: Homossexuais sul-africanas sofrem com onda de ‘estupros corretivos’ (BBC Brasil – 04/07/2011)   

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