21/10/2011 – Assédio sexual no transporte: um crime banalizado pela superlotação e invisibilizado pelo constrangimento das vítimas

21 de outubro, 2011

(Agência Patrícia Galvão/Metrô News/Diário de S.Paulo/Estadão.com/R7) O Metrô de São Paulo registrou mais um caso de violência sexual. Desta vez, a vítima foi uma estudante de 21 anos que foi molestada por um advogado dentro de um vagão da Linha 3-Vermelha, por volta das 18h40 da sexta-feira. Segundo a Delegacia do Metropolitano (Delpom), em 2011 enquanto o Metrô registrou 53 casos de abuso contra mulheres, na CPTM, o número foi de 23 casos neste ano. O Sindicato dos Metroviários está em campanha contra o assédio sexual e para que as mulheres não se sintam constrangidas em denunciar as violências sofridas.

Segundo informações da Secretaria de Segurança Pública (SSP), a estudante relatou que o corregedor Walter Dias Cordeiro Júnior colocou o pênis para fora da calça e passou a se esfregar nela. Em pé, dentro do trem lotado, ele teria impedido a jovem de deixar o vagão. Ela começou a passar mal e, quando os usuários foram socorrê-la, descobriram que estava sendo molestada.

Seguranças do Metrô levaram o advogado para a Delegacia de Polícia do Metropolitano (Delpom). Ele foi preso em flagrante por violência sexual mediante fraude (quando o acusado tira a capacidade de resistência da vítima). O corregedor foi solto no dia 18 da carceragem do 31.º Distrito Policial, após pagamento de fiança.

Segundo informações de um funcionário do distrito policial, a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) recusou representá-lo pelo crime não ser funcional, isto é, por não estar ligado às atividades profissionais dele.

Cordeiro Junior foi desligado, no dia 17, dos quadros da Corregedoria Geral da Administração, órgão da Casa Civil do governo do Estado de São Paulo, onde trabalhava desde 2002.

23/10/2011 – Assédio é humilhação e não tem graça nenhuma, diz vítima de violência no metrô
Acusado de molestar estudante no metrô é solto e perde o cargo de corregedor (O Estado de S. Paulo – 19/10/2011)
Corregedor é suspeito de abuso no metrô (Folha de S.Paulo – 18/10/2011)
Advogado é preso no metrô por molestar estudante (O Estado de S. Paulo – 16/10/2011)
Em SP, estudante é molestada por advogado dentro de um vagão do Metrô (Estadão.com – 15/10/2011)

Outros crimes sexuais no metrô

O Metrô e a CPTM registraram, até julho deste ano, 43 casos de assédio contra passageiras. As reclamações formais nunca foram significativas, devido ao constrangimento das vítimas.

Um dos casos registrados ocorreu na Estação Sacomã, da Linha 2-Verde, na zona sul, foi filmado por câmeras de segurança. Uma professora de 34 anos foi atacada depois de pedir informações para um homem.

Em abril deste ano, o Metrô registrou também o primeiro caso de estupro dentro de um trem. Uma supervisora de vendas que seguia na Linha 2-Verde, no sentido da Vila Madalena, foi violentada por um homem com as mãos.

Na época, o Metrô havia prometido intensificar a instalação de câmeras nos vagões. – Câmera do metrô de SP flagra tentativa de abuso sexual

Superlotação serve como desculpa

O delegado Valdir de Oliveira Rosa diz que “a maioria das mulheres não quer publicidade”. Já os acusados alegam inocência. “Sempre dizem que encostaram porque estava lotado. Esse problema é facilitado pela superlotação porque, “quando está como uma sardinha em lata, a pessoa se sente anônima, ninguém vê nada e não tem nem como reagir”, avalia Cláudio de Senna Frederico, ex-secretário dos Transportes Metropolitanos.- Assédio sexual no metrô incomoda usuário (Folha.com – 05/09/2005)
Leia também: Para coibir o assédio sexual, ônibus que só permitem mulheres fazem sucesso na Guatemala (Zero Hora – 19/10/2011)

Números não espelham a realidade

Marisa dos Santos Mendes, diretora da Secretaria de Assuntos da Mulher do Sindicato dos Metroviários de São Paulo, afirmou que apesar de ser o número oficial, os 53 casos registrados em 2011, não correspondem à realidade do problema. Segundo Marisa, em um espaço onde circulam quase 4 milhões de pessoas por dia, os casos de importunação contra as mulheres são superiores aos oficiais, e essa lacuna se deve principalmente ao medo das vítimas de registrarem as ocorrências. “É a única estatística que temos, mas muitos casos não são registrados. As mulheres ficam constrangidas de denunciar, contar e o sentimento é ruim. Às vezes, têm medo, se acham culpadas, passam mal, mas não vão as delegacias”, diz Marisa. Metrô registra mais ataques contra mulheres do que CPTM [(Metrô News – 21/10/2011) / Metrô registra 5 casos mensais de assédio sexual (Diário de S.Paulo – 18/10/2011) / Oito mulheres sofrem assédio por mês (Band.com – 28/10/2011) / A cada mês, oito mulheres sofrem assédio nos trens de SP (TV UOL – 28/10/2011)

Metroviários em campanha contra assédio sexual

“Estamos em campanha contra o assédio sexual nos transportes públicos. É um problema que tem crescido”, diz Marisa dos Santos Mendes. Leia também: Sindicato dos Metroviários de São Paulo formalizou o pedido de retirada do quadro “Metrô Zorra Total”.

Indicação de fontes

Marisa dos Santos Mendes – diretora da Secretaria de Assuntos da Mulher do Sindicato dos Metroviários de São Paulo
(11) 2095.3600 – [email protected]

Maria Amélia de Almeida Teles (Amelinha)
– coordenadora do Programa de Promotoras Legais Populares e da União de Mulheres de São Paulo
(11) 3283.4040 / 9601.4800 – [email protected]

Silvia Ramos – pesquisadora do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (CESeC) da Universidade Candido Mendes
(21) 2531.2033 / 9801.1945

Wania Pasinato – socióloga e pesquisadora do Núcleo de Estudos da Violência da USP
(11) 3091.4951 / 9263.8365 – [email protected]
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