(O Estado de S. Paulo) Vagões exclusivos para mulheres “são um atestado público de sexismo e desigualdade”, opina Debora Diniz, antropóloga e professora da Universidade de Brasília. A autora afirma que a existência desses vagões deve estimular a busca de alternativas eficazes contra a violência de gênero. Leia trechos selecionados:
“O recente caso de uma estudante de 21 anos molestada por um advogado no metrô de São Paulo denuncia o chikan (palavra em japonês para voyeur, abusador, tarado do metrô, em tradução da autora) paulistano. Um trem lotado e uma mulher jovem o encorajaram a agir. A moça desmaiou de pânico.”
“Já ouvi a tese de que o vagão feminino seria um privilégio indevido em uma sociedade que não discrimina homens e mulheres. Esse é um falso e superficial julgamento sobre as razões para a segregação espacial no transporte.”
“Os vagões para as mulheres são a institucionalização do medo, o reconhecimento da persistência da violência sexista. Resolvem a desigualdade pela proteção que segrega. Para uma mulher não ser importunada ou violada por um chikan, a saída seria resignar-se à segregação. Não somos bem-vindas em todos os espaços, pois somente no vagão para as mulheres estaríamos livres dos abusadores. Há uma lógica perversa na proteção pela segregação: parte-se da certeza de que o sexismo é a regra, a violência dos homens contra as mulheres deve ser suportada e a melhor forma de proteger as mulheres é afastá-las do convívio universal no espaço público.”
“O vagão para as mulheres deve ser um anúncio público do sexismo, deve nos envergonhar por denunciar a desigualdade e a violência e, o mais importante, deve nos provocar a encontrar alternativas mais eficientes para romper com a violência de gênero.”
Leia artigo completo: Privilégio à custa de assédio, por Debora Diniz (O Estado de S. Paulo – 23/10/2011)