Pesquisa feita pelo DataSenado em parceria com o Observatório da Mulher contra a Violência aponta aumento expressivo no percentual de mulheres que declararam ter sofrido algum tipo de violência doméstica. De acordo com o levantamento, de 2015 para 2017, o índice passou de 18% para 29%. A pesquisa, feita a cada dois anos desde 2005, sempre apontou resultados entre 15% e 19%.
(Senado Notícias, 08/06/2017 – acesse no site de origem)
– Eu gostaria muito de estar relatando a diminuição da violência que as mulheres sofrem diariamente, mas, infelizmente, essas pesquisas têm demonstrado, comprovado, o quão significativo tem sido o aumento da violência contra as mulheres – lamentou a senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM), em pronunciamento sobre os resultados da pesquisa.
No levantamento foram ouvidas, por telefone, 1.116 brasileiras, no período de 29 de março a 11 de abril. Foram feitas perguntas sobre violência contra a mulher, Lei Maria da Penha, machismo e disposição das mulheres de denunciar, entre outros. A margem de erro é de três pontos percentuais e o nível de confiança é de 95%.
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Para a diretora da Secretaria de Transparência do Senado, Elga Lopes, responsável pelo relatório, os números preocupam pelo aumento, mas também podem indicar que as mulheres têm denunciado mais a violência sofrida. Ela citou diversos casos recentes de denúncias envolvendo artistas, que podem ter encorajado as mulheres a denunciar seus agressores.
Percepção
De fato, a percepção das mulheres sobre o tema é mais evidente na pesquisa divulgada em 2017. Desde 2009, foi incluída na pesquisa uma pergunta sobre a percepção das mulheres sobre o aumento ou a diminuição da violência contra elas. Na edição deste ano, 69% disseram que aumentou. Esse é o índice mais alto observado entre todas as edições da pesquisa. Além disso, 89% das entrevistadas disseram ter ouvido falar mais sobre o assunto no último semestre.
– Eu quero acreditar que nós, da Bancada Feminina do Congresso Nacional, tenhamos aí os nossos méritos de termos sido protagonistas dessa história, no sentido de dizer à mulher: não tenha vergonha e não tenha medo, porque nós temos um Congresso Nacional; uma bancada feminina pequena, mas aguerrida e atuante – declarou a senadora Simone Tebet (PMDB-MS).
Vulnerabilidade
Outro dado destacado por Elga é o crescimento no percentual de entrevistadas que disseram conhecer alguma mulher que já sofreu violência doméstica ou familiar. O índice saltou de 56%, em 2015, para 71% nesta edição da pesquisa. Para ela, o dado é preocupante porque significa que essas mulheres estão próximas da violência e que estão mais propensas a fazer parte da estatística.
A pesquisa aponta que a mulher que tem filhos está mais propensa a sofrer violência. Enquanto o percentual de mulheres sem filhos que declararam ter sofrido violência provocada por um homem foi de 15%, o percentual de mulheres com filhos que fizeram a mesma afirmação foi de 34%.
Outra constatação foi uma relação entre a raça e o tipo de violência predominante. Entre as mulheres que declararam ter sofrido algum tipo de violência, o percentual de brancas que sofreram violência física foi de 57%, contra 74% das mulheres negras (pretas e pardas).
Lei Maria da Penha
Todas as mulheres entrevistadas, 100%, afirmaram conhecer a Lei Maria da Penha. Apesar disso, uma nova pergunta incluída nesta edição da pesquisa mostra que o conhecimento é superficial. Mais de três quartos das entrevistadas, 77% afirmaram conhecer pouco sobre a lei. Para Elga Lopes, esse dado traz uma mensagem para o poder público.
– Muitas vítimas ouvem falar da Lei Maria da Penha, mas sequer sabem o quanto a lei pode protegê-las. A principal mensagem que a pesquisa traz é um apelo para que os três poderes não só combatam a violência contra a mulher, mas também para que tornem mais conhecidos os mecanismos que a lei traz – alertou.