Pela manhã, as mulheres que se deslocam de trem ou de metrô por São Paulo têm mais chances de sofrer uma “encoxada” ou ter partes íntimas tocadas sem consentimento. Isso é o que apontam os dados de ocorrências registradas pela Delpom (Delegacia de Polícia do Metropolitano), obtidos pelo UOL por meio da Lei de Acesso à Informação.
(Folha de S.Paulo, 12/01/2017 – acesse no site de origem)
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Entre janeiro e outubro do ano passado, o Metrô e a CPTM registraram 168 casos de abuso sexual em suas dependências. Desses, 31 ocorreram entre 8h e 8h59. O segundo horário com mais registros é entre 7h e 7h59, com 24 episódios desse tipo. Há picos de ocorrências também das 18h às 18h59 (20 casos) e das 19h às 19h59 (15 registros).
Os números levam em conta três tipos de casos: estupro e violação sexual mediante fraude (que são crimes previstos no Código Penal e passíveis de prisão) e importunação ofensiva ao pudor (que não é considerado crime, e sim contravenção em que a pena prevista é uma multa).
Houve um aumento expressivo de registros de abuso nos últimos cinco anos: em 2012, foram oito ocorrências; em 2013, subiu para 17; em 2014, foram 70. Somadas as três categorias, foram 168 registros de abusos em todo o ano de 2015.
“Eu não acho que aumentou a prática do abuso sexual. Eu acho que cresceu a participação das mulheres e a conscientização por seus direitos. Isso é um movimento de mudança”, diz a defensora pública Ana Rita Souza Prata, coordenadora do Núcleo de Promoção e Defesa dos Direitos da Mulher.
Para ela, no entanto, o número de casos deve ser bem maior do que o registrado. “A gente tem uma subnotificação de violência sexual em todos os espaços, não só no metrô, por conta da vergonha, do sentimento de culpa que muitas sentem. Há também uma descrença nos sistemas de Justiça e policial. No caso do metrô, é preciso levar em conta que a mulher está em trânsito, ela tem compromissos e sabe que esse registro demora, então acaba priorizando outras coisas”, afirma.
Para a advogada Marina Ruzzi, o sentimento de vergonha faz com que muitas mulheres queiram simplesmente esquecer o que aconteceu e não registrem a ocorrência. “Há também a barreira institucional, de forma que, quando as mulheres denunciam, muitas vezes não têm sua palavra levada a sério, ou seu caso é tratado como se fosse de menor importância”, diz ela.
Por Marcelle Souza e Caio do Valle