“Eu era apaixonada por alguém que me manipulava”, conta Marina Person sobre relacionamento abusivo

10 de outubro, 2016

Na semana nacional de luta contra a violência à mulher, a apresentadora e cineasta faz um relato sincero sobre um antigo relacionamento

(Marie Claire, 10/10/2016 – acesse no site de origem)

O dia 10 de outubro é conhecido como o Dia Nacional de Luta contra a Violência à Mulher, uma data importante no que diz respeito ao combate de um problema que atinge milhões no Brasil. Segundo levantamento do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, a cada 11 minutos uma mulher é violentada no país. Cerca de 41% dos casos acontecem dentro de casa. E três a cada cinco mulheres sofreram, sofrem ou sofrerão violência – seja ela física, psicológica, moral ou patrimonial – em algum relacionamento afetivo, de acordo com a ONU. Isso faz com que ocupemos o 5º lugar no ranking mundial de feminicídio. A fim de jogar luz sobre uma realidade tão grave – e dolorosa – publicaremos relatos de mulheres vítimas dos próprios parceiros, que apoiam a campanha #TambémÉViolência, da ONG Artemis em parceira com a Lush, sobre relacionamento abusivo, violência que deixa marcas invisíveis e é ainda desacreditada pelas autoridades.

“Já lidei com violência psicológica em alguns níveis, sobretudo em relacionamentos amorosos. Você nunca acha que o cara vai te fazer mal. E aí, de repente, se vê absolutamente envolvida em uma relação abusiva. Eu era completamente apaixonada por alguém que me manipulava.

O namoro durou quatro anos, entre idas e vindas. E durante todo esse tempo, sentia que ele conseguia de mim atitudes com as quais eu mesma me surpreendia. Coisas que nunca me imaginei fazendo, topando ou me sujeitando.

Existem diversas razões para que as mulheres se tornem vulneráveis a ‘aceitar’ uma violência, como quando se está apaixonada ou acredita que aquela relação é de fato a sua salvação. Quando eu ouvia relatos de namoradas e esposas que sofriam caladas com abusos psicológicos e físicos sem conseguir se desvencilhar da relação, pensava: ‘Não sei como alguém se submete a isso’. Até que me vi em uma situação parecida e pude perceber que, quando uma mulher está em um relacionamento amoroso, ela acaba topando coisas que, em outras situações, confrontaria.

De cara, você não se dá conta da complexidade da coisa e realmente acha que fez algo errado. ‘Com quem você está?’. ‘Com uma amiga? Sei bem’. ‘Você sabe do que eu estou falando’. Com frequência, ele jogava verde sobre traições que nunca existiram. E eu? Me achava louca, pensei até em um possível sexto sentido aguçado da parte dele. Só depois de muito tempo, percebi que não.

Foi quando de fato a ficha caiu. Ele não tinha bola de cristal e nem uma espiã atrás de mim, porque se tivesse estaria passando a informação errada.

Relacionamento como esse é feito explosivo, a qualquer momento parece que vai estourar. Te exige pisar em ovos o tempo inteiro. E essa sensação de que de repente uma atitude sua, por mais inocente que seja, pode disparar um gatilho de paranoia no outro, é horrível. Você perde toda a autoconfiança, vive com medo, se sente ameaçada o tempo inteiro. O ciúme é um bichinho que você alimenta, e se for demais, vira um monstro e te domina.

Depois de muito refletir, percebi que, a princípio, acaba achando que a culpa é sua, que fez algo provocativo para aquela atitude desconfiada e explosiva do outro. Ele tinha a ilusão de que podia controlar meus sentimentos e relacionamentos. Existia um machismo embutido ali.

Na época mexeu com a minha autoestima. Eu me sentia incapaz de terminar, de deixar de gostar, de tentar identificar que aquilo me fazia mal. Me deixava insegura. Concluímos que não conseguiríamos manter uma relação saudável. A gente não se fazia bem. Terminamos.

Ele nunca reconheceu o que fez, não teve essa humildade. Acho que não sabe até hoje. Capaz de ler esse depoimento e não se reconhecer nele. O que me ajudou foi a terapia.

Eu nem era tão nova, já tinha tido vários namorados. É maluco como a gente tenta buscar estereótipos para algo que pode acontecer com qualquer um, independente de educação, formação, oportunidade de acesso à informação… Faz parte das relações humanas e precisa ser combatido.”

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