Isamara já havia sofrido ameaça de morte no dia de Natal, em 2012.
Centro de Referência e Apoio à Mulher definiu caso como feminicídio.
(G1, 03/01/2017 – acesse no site de origem)
A ex-mulher do atirador da chacina de Campinas (SP), Isamara Filier, de 41 anos, detalhou como foram as ameaças e as demais queixas contra Sidnei Ramis de Araujo, de 46 anos, à Polícia Civil. Nesta terça-feira (3), o G1 obteve, com exclusividade, o conteúdo dos históricos dos cinco boletins de ocorrência registrados pela vítima ao longo de dez anos.
O Centro de Referência e Apoio à Mulher (Ceamo) da cidade definiu o crime da noite de réveillon como um feminicídio.
“A gente entende que não é uma chacina. Acho que as cartas que ele deixou expressam um ódio. É sim um feminicídio. Para nós o que ficou muito claro foi a questão do ódio das mulheres de uma forma geral, e não só da ex-mulher. A gente tem que se unir para alertar outras mulheres sobre os sinais que os homens emitem durante um relacionamento. Que mostram que é um relacionamento abusivo”, afirma Elza Frattini Montali coordenadora do Centro de Referência.
Segundo ela, um ato em repúdio à violência contra a mulher está sendo marcado para esta semana, em Campinas.
Isamara, o filho de 8 anos com Sidnei e mais dez pessoas da família dela foram assassinados durante uma festa de réveillon, entre a noite do dia 31 de dezembro e a madrugada de 1º de janeiro.
Sidnei invadiu o local atirando e atingiu 15 pessoas; 11 morreram no local e quatro baleadas foram socorridas, mas uma não resistiu aos ferimentos. O filho foi o último a ser morto antes de Sidnei cometer suicídio.
Além dos cinco boletins de ocorrência registrados desde 2005 até 2015, em 2013 Isamara denunciou Sidnei à Justiça por abuso contra o filho dos dois.
Sidnei deixou a explicação do que o motivou a cometer o crime em uma carta de oito páginas, divulgada na imprensa, que já está também com a Polícia Civil.Ameaça de morte no Natal, empurrão…
Isamara começou a registrar as queixas quando ainda era casada com Sidnei. Eles ficaram juntos por pouco mais de dois anos, segundo os depoimentos prestados à polícia, e estão separados há cerca de cinco anos.
As discussões eram frequentes e, após a separação, ela sofreu ameaças verbais e chegou a ser empurrada durante uma visita de Sidnei para ver o filho.
Foram quatro boletins de ocorrência de natureza criminal, mas as investigações não prosseguiram porque Isamara não representou, ou seja, não quis dar continuidade aos processos. O quinto boletim foi de natureza não criminal.
Junho de 2005 – Isamara tinha 29 anos e trabalhava na função de encarregada de setor. Ainda era casada com Sidnei.
“Foi ameaçada pelo seu esposo de 34 anos na tarde de 7 de junho de 2005 na Rua Leonida Reimann Trotti, em Campinas, no interior de SP. Segundo a vítima, as discussões eram frequentes e, na tarde do dia 7 de junho, durante outra discussão, seu esposo a ameaçou e a insultou. A encarregada foi orientada quanto ao prazo de representação. O caso foi registrado na 1ª Delegacia de Defesa da Mulher [DDM] de Campinas como ameaça e injúria”, diz o BO.
Dezembro de 2012 – Isamara tinha 37 anos e registrou queixa por ameaça na manhã do dia 25 de dezembro.
“Informou que foi ameaçada por seu ex-companheiro, de 42 anos na manhã do dia 25 de dezembro de 2012, no Jardim Aurélia, em Campinas. A mulher contou aos policiais que eles têm um filho juntos e que, nesse dia, o homem ligou e a ameaçou de morte. A vítima foi orientada quanto às medidas protetivas e ao prazo de representação. O caso foi registrado na 1ª DDM de Campinas”, diz o BO.
Setembro de 2013 – Isamara tinha 38 anos e foi empurrada por Sidnei. Ela relatou à polícia que já havia denunciado o ex à Justiça por abuso contra o filho.
“Foi empurrada por seu ex-marido no dia 8 de setembro de 2013 no Jardim Aurélia, em Campinas, interior de SP. Segundo informou a vítima, o homem que realizava uma visita regular ao filho a empurrou quando ela se aproximou. Ao ser informado que ela chamaria a polícia, ele fugiu do local. A mãe do garoto também disse que já havia processado o autor por abuso de incapaz. Vítima orientada quanto ao prazo de representação. O caso foi registrado no 4º DP de Campinas como ‘vias de fato'”, diz o BO.
Dezembro de 2014 – Isamara trabalhava como contadora e tinha 39 anos. Chamou a polícia após o ex-marido, com 44 anos, assistir a uma partida de futebol do filho sem autorização.
“Policiais militares foram acionados no dia 9 de dezembro de 2014 para comparecer ao Clube Aurélia C J Habitacional Bandeirante, em Campinas, para atender a uma discussão. Uma contadora de 39 anos informou à polícia que foi casada com o técnico de 44 anos e que, após a separação, foi determinada que ela permanecesse com a guarda do filho que tiveram juntos. A determinação judicial impedia que seu ex-marido se aproximasse da criança fora dos dias de visita. Os policiais adentraram ao clube e avistaram o técnico assistindo a uma partida de futebol sem intenção de se aproximar da criança. Ele dizia que desconhecia essa ordem judicial. Os dois foram orientados a procurar a Vara de Família competente e buscar advogados ou defensor público para providências pertinentes na esfera cível. O caso foi registrado como ‘outros não criminal’, no 4º DP de Campinas”, diz o BO.
Junho de 2015 – Isamara foi ameaçada de morte e chegou a ser informada sobre possibilidade de medidas protetivas e abrigo.
“Uma mulher de 39 anos foi ameaçada por seu ex-companheiro no dia 14 de junho de 2015 no Jardim Aurélia, em Campinas, no interior de SP. A mulher compareceu à delegacia e informou que foi casada com o autor há mais de dois anos, porem estavam separados há mais de cinco anos. Ainda segundo informou, o homem, de 44 anos, a ameaçou dizendo que era melhor ela ir conversar com o diabo, pois nem Deus a ajudaria, porque ela e sua mãe iriam pagar. O caso foi registrado no 1º DP de Campinas como ameaça. A vítima foi informada das medidas protetivas mas não as solicitou e nem desejou ser abrigada”, diz o BO.