Reação crítica a artigo sobre a carreira da artista trouxe à tona temas sobre os quais ela nunca se furtou a refletir
(Brasil de Fato | 08/11/2021 / Por Gabriela Moncau)
A meteórica carreira da cantora sertaneja Marília Mendonça, interrompida bruscamente por um acidente aéreo na última sexta-feira (5), foi marcada não só por seus sucessos, mas também por trazer à tona, no palco e nas letras, questões relacionadas a protagonismo feminino, padrões de beleza e desigualdades nos relacionamentos afetivos. Tanto é assim que, passadas pouco mais de 24 horas de seu sepultamento, novas polêmicas em torno desses temas tomaram as redes sociais.
Um artigo na Folha de S. Paulo, publicado horas depois da queda do avião e assinado pelo historiador Gustavo Alonso, acendeu as discussões e, ao longo do final de semana, foi alvo de críticas e debates nas redes sociais.
No texto, Alonso analisou a carreira da jovem de 26 anos de forma majoritariamente elogiosa, ao destacar que Mendonça era “incontestamente a mais reconhecida” artista não só do chamado feminejo, como de toda a música sertaneja. O autor exemplificou como o machismo do showbusiness marcou a carreira de Marília Mendonça, citando que, de início, suas composições eram fornecidas a cantores homens.
Os trechos que geraram polêmica foram outros, porém. “Nunca foi uma excelente cantora. Seu visual também não era dos mais atraentes para o mercado da música sertaneja”, escreveu o articulista.
Ele seguiu: “Marília Mendonça era gordinha e brigava com a balança. Mais recentemente, durante a quarentena, vinha fazendo um regime radical que tinha surpreendido a muitos. Ela se tornava também bela para o mercado”.
Posts e textos em resposta ao artigo se multiplicaram pela internet, um deles na própria Folha, assinado pela roteirista Mariliz Pereira Jorge, sob o título “Mulheres são julgadas pela aparência até quando morrem”.
A cantora Teresa Cristina caracterizou, em manifestação no Twitter, o texto como “insensível, machista e gordofóbico”. Já Débora Diniz, antropóloga e atuante nas áreas de bioética e direitos reprodutivos, afirmou que a publicação era uma amostra “de como opera o patriarcado”.