Recentemente, alguns pararam de se referir a mulheres por termos como “piranha” ou “vagabunda” (8%), outros deixaram de cantá-las na rua (18%). Alguns não mais as criticam por usarem roupas curtas ou decotadas (11%), e existem ainda aqueles que deixaram de tentar se aproveitar de uma mulher bêbada (2%).
(Folha de S.Paulo, 07/12/2016 – acesse no site de origem)
Apesar disso, há igual número de homens que admitem ainda se referir a mulheres como “piranhas” ou “vagabundas” (8%), outros que declaram cantar mulher na rua (19%). Quase um quarto reconhece criticá-las por usarem roupas curtas ou decotadas (23%), e poucos que assumem se aproveitar quando elas beberam (1%).
O retrato pintado pela pesquisa “O papel do homem na desconstrução do machismo”, encomendada pelo Instituto Avon, aponta que, apesar de haver avanços, os entraves para a superação do machismo são muitos.
Os dados, do Instituto Locomotiva, sugerem, no entanto, que o engajamento dos homens é essencial neste processo e que conversar sobre o tema é o melhor remédio.
De um lado, 44% dos homens afirmaram que ser chamado de machista não o engajaria na luta pelos direitos da mulher. Para mais de metade daqueles que deixaram de lado comportamentos machistas nos últimos tempos, porém, a mudança foi motivada por uma conversa pessoal com alguém próximo (54%).
Dentre esses, 34% mudaram porque um amigo ou parente homem falou para que não fizesse aquilo.
“A mudança de comportamento dos homens não se dá somente do ponto de vista cognitivo. Ele precisa de um exercício de diálogo entre homens para repensar o que é machismo”, afirma Leandro Feitosa, professor de psicologia da PUC-SP e coordenador do Grupo Reflexivo de Homens, que reúne agressores encaminhados pela 1ª Vara de Violência Doméstica e contra a Mulher de São Paulo.
“Os modelos de socialização masculina são focados no trabalho, lazer e esporte, espaços de manutenção do modelo hegemônico machista.” Segundo ele, participantes de seu grupo lamentam a falta de espaços para rever valores e discutir relações de gênero.
Na pesquisa, com margem de erro de 2,4 pontos percentuais, foram entrevistadas 1.800 pessoas, com 16 anos ou mais, em 70 cidades de todas as regiões do país.
Pelo estudo, 6 em cada 10 homens acham que poderiam melhorar sua postura em relação às mulheres e 31% deles dizem que gostariam de não ser machista, mas não sabem como agir para isso.
“Essa discussão deve começar nas escolas. O potencial transformador está na formação do jovem”, diz Feitosa.
A pesquisa, que entrevistou homens e mulheres, mostra que 87% consideram que parte da população é machista, mas apenas 24% se consideram machistas. Em outra resposta, fica flagrante a persistência da cultura machista: só metade (52%) dos homens avalia não haver problema em uma mulher trabalhar fora e o marido cuidar da casa.
“Reconhecer o machismo no outro, e não em si mesmo, perpetua o pensamento e as atitudes machistas”, avalia Daniela Grelin, gerente-sênior do Instituto Avon.
Questionados sobre atitudes para evitar o preconceito e a violência contra a mulher, 37% avaliaram que ensinar os filhos a respeitar as mulheres é o mais importante.
“Se prevalecem os estereótipos nas suas atitudes, como educar as próximas gerações de maneira diferente disso?”, questiona Grelin.
Fernanda Mena