“Meu marido me estuprou, mas eu não tenho como me separar”, por Regina Navarro Lins

09 de agosto, 2017

“Nossa relação era razoável, mas num determinado momento começou uma crise que não acabou mais. Passei a evitar fazer sexo. Ele me cobrava argumentando que era quem pagava as contas. Um dia tentou forçar a relação sexual e eu gritei; fiz um escândalo. Ele recuou. Nos meses seguintes, correu tudo normal, mas como sempre sem sexo. Até que ele perdeu o prumo. Numa noite me pegou à força, tapou minha boca e me estuprou. Desde então só penso em como me livrar desse casamento. Trabalho o dia inteiro, inclusive aos sábados, mas o que ganho não dá para me sustentar sozinha. Não sei o que fazer.”

(UOL, 07/08/2017 – acesse no site de origem)

Ao ouvir esse relato é impossível não nos perguntarmos: Por que um homem se sente com direito de estuprar uma mulher, ainda que ela seja sua própria esposa? Para responder a isso, é necessário compreender as características do sistema em que vivemos há mais ou menos cinco mil anos: o sistema patriarcal.

Trata-se de uma organização social baseada no poder do pai, e a descendência e parentesco seguem a linha masculina. As mulheres são consideradas inferiores aos homens e, por conseguinte, subordinadas à sua dominação.

Superior/inferior, dominador/dominado. A ideologia patriarcal dividiu a humanidade em duas metades, acarretando desastrosas consequências. É evidente que a maneira como as relações entre homens e mulheres se estruturam — dominação ou parceria — tem implicações decisivas para nossas vidas pessoais, para nossos papéis cotidianos e nossas opções de vida.

O antagonismo entre os sexos impede uma amizade e um companheirismo verdadeiros, fazendo com que a relação entre homem e mulher se deteriore. As relações conjugais têm sido de condescendência de um lado e obrigação de outro, cheias de desconfianças, ressentimentos e temores.

Não há dúvida de que as mentalidades estão mudando; muitos homens já compreenderam que a virilidade tradicional é bastante arriscada e cada vez mais aceitam que atitudes e comportamentos sempre rotulados como femininos são necessários para o desenvolvimento de seres humanos.

A consequência é a gradual destruição de valores tidos como inquestionáveis no que diz respeito ao amor, ao casamento e à sexualidade, trazendo a perspectiva do fim da guerra entre os sexos e o surgimento de uma sociedade onde possa haver parceria entre homens e mulheres.

*** Você também vive um conflito amoroso e sexual? Escreva para [email protected] e conte sua história em até 12 linhas. Ela pode ser comentada aqui no blog e sua identidade não será revelada.

Regina Navarro Lins é psicanalista e escritora, autora de 11 livros sobre relacionamento amoroso e sexual, entre eles o best seller “A Cama na Varanda” e “O Livro do Amor”. Atende em consultório particular há 42 anos e realiza palestras por todo o Brasil. É consultora e participante do programa “Amor & Sexo”, da TV Globo, e apresenta o quadro semanal Sexo em Pauta, no programa Em Pauta, da Globonews. Nasceu e vive no Rio de Janeiro.

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