ONU desenvolve modelo econômico para mensurar custo da violência doméstica nos países árabes

11 de outubro, 2017

Um modelo econômico para estimar os custos da violência doméstica — o tipo de violência mais comum contra mulheres no mundo árabe — foi divulgado na semana passada (6) em uma das comissões regionais das Nações Unidas com sede em Beirute, no Líbano.

(ONU Brasil, 11/10/2017 – acesse no site de origem)

“Nosso objetivo final sempre foi traduzir os resultados de nossos estudos em projetos práticos com o objetivo de empoderar mulheres e melhorar sua posição na sociedade”, disse Mohamed Ali Alhakim, secretário-executivo da Comissão Econômica e Social das Nações Unidas para a Ásia Ocidental (ESCWA, na sigla em inglês), que atende 18 Estados árabes.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), 37% das mulheres que são ou já foram casadas nos países da região do Mediterrâneo Oriental — que inclui a maior parte dos países árabes — sofreram violência física ou sexual por parte de seus parceiros.

Discursando em evento do Comitê de Mulheres da comissão, Alhakim afirmou que apesar do progresso no desenvolvimento de planos nacionais para enfrentar a violência de gênero, os países árabes precisam fazer mais para acabar com as graves violações perpetradas contra as mulheres.

Para apoiar esses esforços, a comissão e a ONU Mulheres desenvolveram um projeto regional para estimar o custo da violência contra as mulheres e usar esses dados como instrumento para reformas de políticas e defesa dos direitos das mulheres.

“Pretendemos utilizar esses dados como uma ferramenta de ativismo junto aos tomadores de decisões para sustentar que se trabalharmos de forma holística para acabar com a violência contra as mulheres não apenas será a coisa certa a fazer, como será a mais inteligente”, disse Mohammad Naciri, diretor do escritório regional da ONU Mulheres no Egito.

“Me emociono quando tentamos quantificar (a violência), porque as feridas emocionais e psicológicas que as mulheres e meninas vivem como resultado da violência exercida contra elas não necessariamente pode ser quantificada”, continuou. “É por isso que eu afirmo ser a coisa inteligente a fazer, mas a coisa certa a se lembrar é o direito absoluto de cada mulher e menina acabar com a violência contra ela”.

Da esquerda para a direita: Khawla Mattar (ESCWA), Naglaa Al-Adly (do Conselho Nacional de Mulheres do Egito), ministra Haifa Agha (Ministério Palestino para as Mulheres), Nata Duvvury (da Universidade Nacional da Irlanda), Mehrinaz Elawady (do Centro de Mulheres da ESCWA). Foto: ESCWA/Daniela Abraham

Da esquerda para a direita: Khawla Mattar (ESCWA), Naglaa Al-Adly (do Conselho Nacional de Mulheres do Egito), ministra Haifa Agha (Ministério Palestino para as Mulheres), Nata Duvvury (da Universidade Nacional da Irlanda), Mehrinaz Elawady (do Centro de Mulheres da ESCWA). (Foto: ESCWA/Daniela Abraham)

De acordo com a ONU Mulheres, a difícil situação econômica, política e de segurança em muitos países árabes alimenta o problema, dada a correlação direta entre crises e violência doméstica. Durante o último conflito em Gaza, houve um aumento em 700% da violência doméstica devido a sentimentos de desesperança, humilhação e falta de oportunidades.

Enquanto os impulsionadores da violência não são enfrentados, há múltiplas abordagens para o fenômeno dos custos. Os dois principais métodos envolvem estimar o custo da inação — medindo os custos diretos e indiretos, tangíveis e intangíveis da violência para as sobreviventes, suas famílias e comunidades, incluindo tempo de trabalho pago ou não pago perdido; e estimando os custos de implementar políticas para prevenir e enfrentar a violência — ou o custo da solução.

A diretora de estudos globais sobre mulheres da Universidade Nacional da Irlanda, Nata Duvvury, tem trabalhado com a comissão para desenvolver o modelo e criar a ferramenta. “Os custos diretos têm sido (…) os relacionados à criação de delegacias, serviços de saúde, serviços sociais e outros”, explicou.

“Mas há outro aspecto de custos diretos que não foram capturados com muito cuidado nos países, que são os custos arcados pelas mulheres para acessar tais serviços”, disse Duvvury, lembrando que pagar propinas não é incomum para as mulheres do mundo árabe, além de outras taxas para acessar apoio físico e psicossocial.

Nossas Pesquisas de Opinião

Nossas Pesquisas de opinião

Ver todas
Veja mais pesquisas