O machismo estrutural e as raízes da desigualdade de gênero

Mídia Ninja – Machismo mata – feminicídio

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27 de setembro, 2024 ICL Notícias Por Redação

O machismo estrutural, como diz o nome, está em diversos aspectos da vida cotidiana. Entenda suas principais consequências e como combater esse preconceito.

  • 1 morte a cada 15 horas, vítimas de feminicídios.
  • 30% das brasileiras já sofreram algum episódio de violência doméstica.
  • 53% de participação na força de trabalho.
  • Apenas 18% das pessoas eleitas em 2022 eram mulheres.
  • Salários 20% menores, mesmo exercendo a mesma função.

Há quem diga que não sabe o que é machismo, ou que ele não existe. No entanto, as dificuldades vivenciadas por homens e mulheres se comprovam nas estatísticas do mercado de trabalho, violência e até mesmo participação na política.

O que é machismo?

Segundo o dicionário, machismo é:

Qualidade, comportamento ou modos de macho (homem); macheza, machidão.
Orgulho masculino em excesso; virilidade agressiva.
Ideologia da supremacia do macho que nega a igualdade de direitos para homens e mulheres.

Na prática, pode ser entendido como a desigualdade que privilegia homens simplesmente por serem homens em todo e qualquer aspecto da vida. Muito além de atitudes individuais, esse é um sistema de opressão profundamente enraizado nas estruturas da sociedade, moldando relações de poder e reproduzindo desigualdades entre homens e mulheres.

A partir daí, chegamos ao chamado machismo estrutural, algo tão natural à sociedade que nem percebemos quando ele ocorre. Muito parecido, inclusive, com a misoginia como um todo, esse sentimento de desprezo, preconceito e até mesmo aversão às mulheres e ao que remete ao feminino. Essa é a teia invisível do patriarcado, que se manifesta em leis, costumes, valores e comportamentos, subjuga as mulheres e limita suas oportunidades de desenvolvimento pessoal e social, além de prejudicar os próprios homens.

O machismo como sistema de opressão de todos

O machismo parte da ideia de que homens são seres viris e superiores às mulheres e, por isso, têm direito a mais poder e privilégios maiores. Essa crença se manifesta em diversos aspectos da vida social, cultural e política, influenciando a forma como homens e mulheres se relacionam e como a sociedade é organizada. É importante desconstruir falácias diversas falácias sobre o machismo para que possamos todos combatê-lo.

“Mais homens morrem do que mulheres”

Essa afirmação ignora a violência direcionada às mulheres. A realidade é que, sim, mais homens morrem no Brasil, mas a causa é a violência, e os homens morrem mais por causa da violência entre eles, enquanto as mulheres são vítimas principalmente de feminicídios. A violência contra a mulher é um problema específico e um resultado direto do machismo. Por isso, não pode ser comparado com as agressões entre homens.

“Homens tinham o direito de votar pois eram enviados à guerra”

A guerra, além de historicamente ser resultado de conflitos gerados por homens, não é um argumento válido para justificar privilégios masculinos. O direito ao voto era, na Grécia Antiga, relacionado à posse e à liberdade: apenas homens que possuíssem propriedades poderiam votar. Entre os povos celtas e hindus, os druidas (considerados sacerdotes entre essas populações) eram responsáveis pela escolha dos líderes.

Com a evolução da humanidade, o voto passou a ser reivindicado como um direito humano fundamental e exigido por grupos marginalizados, como a população negra, grupos indígenas e as mulheres. A participação das mulheres na sociedade e na política é fundamental para a democracia.

“Machismo é uma ideia neutra”

O machismo não é uma ideia neutra, já que seu conceito básico remete à uma superioridade dos homens frente às mulheres. Por isso, não é possível pensar nele em nada além de um sistema de opressão que causa danos reais às mulheres e, também, limita a liberdade dos homens.

“As mulheres são mais privilegiadas que os homens”

Essa argumentação é baseada em estereótipos de gênero e ignora as inúmeras responsabilidades e dificuldades que as mulheres enfrentam. A preferência em situações de emergência ou o benefício de aposentadoria mais cedo, por exemplo, foram pensados para garantir algum privilégio masculino.

No primeiro caso, as mulheres são as principais responsáveis pelo cuidado das crianças e também pela perpetuação da espécie; na segunda, mulheres se aposentam antes como forma de compensar o trabalho doméstico a que são submetidas antes e depois do horário do expediente.

“Existem diferenças naturais de cada sexo”

As diferenças entre homens e mulheres são socialmente construídas, não naturais. Todos os estudos científicos, feitos de forma séria e imparcial, não conseguiram encontrar diferenças fisiológicas entre os dois sexos.

O que acontece é a imposição, por parte da sociedade, a papeis e comportamentos de acordo com o gênero, limitando as mulheres e negando sua capacidade e potencial. Dizer que existem diferenças intelectuais ou físicas entre os sexos é perpetuar séculos de preconceitos e ignorar todas as evidências científicas.

Os perigos da sociedade patriarcal

A sociedade patriarcal é a base do machismo estrutural, definindo que os homens ocupam posições de poder e domínio sobre as mulheres, com as regras e os papéis de cada gênero muito bem estabelecidos. Sendo assim, podemos dizer que o patriarcado se manifesta em diversas esferas da vida:

Família

O modelo familiar que posiciona o homem como chefe de família e a mulher responsável pelos cuidados domésticos, é um reflexo e uma consequência do patriarcado. Essa estrutura impacta a vida das mulheres, já que limita suas oportunidades de trabalho, de estudo e de participação na vida pública.

A situação atual do Afeganistão, onde as mulheres estão perdendo a liberdade de falar alto em público sob o risco de serem mortas por apedrejamento é um exemplo de sociedade patriarcal;

Trabalho

As mulheres ainda enfrentam muitas desigualdades no mercado de trabalho. Desde menos acessos a oportunidades por condições como a pobreza menstrual, a obrigação de cuidar da família e até mesmo assédio no ambiente de trabalho, até os salários, menores que os dos homens mesmo com trabalhos iguais.

A ascensão profissional também é um obstáculo: hoje, apenas 39% das lideranças de empresas brasileiras são de responsabilidade feminina. Se lembrarmos que só em 1962, com o Estatuto da Mulher Casada, é que as mulheres passaram a poder trabalhar independente de serem casadas ou terem uma autorização do marido, é fácil entender tanta desigualdade de gênero.

Política

Considerando que o voto feminino só foi instituído por lei em 1932, fica claro como as mulheres estão sub-representadas nos cargos políticos. Isso significa não apenas que temos menos mulheres na política, mas dificuldades reais de acesso a posições de poder e de influência nas decisões que afetam a sociedade.

Cultura

A cultura patriarcal perpetua estereótipos de gênero, associando as mulheres à fragilidade, à submissão e aos cuidados domésticos e os homens à força, à autoridade e à competitividade. Essa construção cultural do “coisa de mulher” vai muito além de uma simples brincadeira, impactando a forma como homens e mulheres se veem e se relacionam no mundo.

Se as mulheres são frágeis, os homens só podem ser fortes. Se as mulheres são atenciosas, os homens não podem ser carinhosos. O prejuízo é coletivo.

O machismo na sociedade atual

É inegável que apesar dos avanços em direitos das mulheres nas últimas décadas, o machismo continua a ser uma realidade presente na sociedade atual. A violência contra a mulher, o assédio sexual, a discriminação no mercado de trabalho e a sub-representação feminina na política são apenas alguns exemplos de como o machismo se manifesta em nossas vidas.

A Lei 13.104 que estabelece o Feminicídio como um homicídio qualificado, um crime hediondo e quando o assassinato envolve violência doméstica e familiar, menosprezo ou discriminação à condição de mulher da vítima, foi promulgada apenas em 2015. Até então, mulheres morriam por seus parceiros e/ou ex-parceiros e não havia nenhum agravante tipificado no Código Penal Brasileiro.

A própria Maria da Penha, que originou uma das primeiras leis de proteção às mulheres da violência de gênero, teve sua história descredibilizada por anos e sofre ameaças da extrema-direita até hoje. Não é incomum que mulheres que tentem denunciar seus parceiros (ou ex-parceiros) por violência doméstica, abuso ou até mesmo perseguição, sofram tentativas de descredibilização pelo sistema de justiça brasileiro.

Infelizmente, existem muitos exemplos na sociedade brasileira demonstrando quão forte é a presença do machismo na nossa realidade.

A cultura do estupro, por exemplo, que normaliza a violência sexual contra as mulheres, culpabiliza as vítimas e duvidando de suas alegações, é um reflexo do machismo enraizado na sociedade. A objetificação da mulher, num claro movimento de reduzi-la a um objeto sexual ou um corpo atrativo para o prazer masculino é uma das formas mais comuns de manifestação do machismo.

Um episódio que retrata essa objetificação é o do “pintou um clima” do ex-presidente Bolsonaro. Além da questão séria de objetificar mulheres para satisfazer o desejo de um homem, a fala é ainda mais problemática por se tratarem de meninas menores de idade – o grupo que mais sofre violência sexual de familiares e pessoas próximas, que frequentam o ambiente doméstico.

O combate a todas essas formas de violência também passa por transformar comportamentos sociais, para que as mulheres deixem de enfrentar dificuldades para denunciar e combater a violência que sofrem. A falta de acesso à justiça, a cultura do silêncio e a descrença nas autoridades são fatores que impedem que as mulheres busquem proteção.

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