A história de Dalva e Elizete, que perderam seus filhos em lados opostos de uma operação do Bope na favela mais antiga do Brasil
Dalva e Elizete choram muito ao falar sobre os filhos. Secam as lágrimas com as costas das mãos, mas a água teima em escorrer dos olhos como torneira vazando. As duas são consoladas por filhas mais velhas, pilares de equilíbrio em famílias destruídas e, ao mesmo tempo, motivo para as mães seguirem vivendo, quando a vontade é morrer junto aos filhos ou, se pudessem, no lugar deles.
(O Globo, 02/04/2017 – acesse a íntegra no site de origem)
Quase um ano depois, duas mães habitam um mundo coberto de lágrimas. Dalva, com olhar bondoso e rosto enrugado, e Elizete, de sorriso tímido e olheiras de quem não dorme, tiveram vidas parecidas e agora sentem a mesma dor. A primeira, doméstica aposentada, frequenta três vezes por semana cultos da Igreja Adventista do Sétimo Dia. Com a Bíblia nas mãos, ora pela alma do filho, pede a Deus para encontrá-lo quando morrer. Também reza pela saúde da mulher do pastor, que faz quimioterapia. Elizete vai à missa da Igreja Católica às segundas-feiras, depois de passar o dia faxinando uma casa no Grajaú, onde também trabalha às sextas. Nos outros três dias da semana, vende verduras, legumes e frutas em uma barraca de feira perto de casa. Quando está em movimento, pensa menos no filho e em sua mãe, enterrada três meses depois.
— Ela morreu de tristeza. Pegou depressão, era o neto preferido. Fui visitá-la na Paraíba, cheguei lá e estava tão abatida que parecia não me ver. Repetia a mesma pergunta, querendo saber como o neto se foi — conta Elizete. — Fico muito pouco dentro de casa, é a hora que dói mais. Vai fazer um ano. Parece que foi ontem.
Por Caio Barreto Briso