(El País, 12/04/2015) Membros do Boko Haram, na noite entre 14 e 15 de abril de 2014, entraram no Instituto de Chibok, noroeste da Nigéria, e sequestraram 275 jovens estudantes que se preparavam para os exames finais. Meia centena delas conseguiu escapar dos seus captores dias depois. As outras, um pouco mais de 200, continuam desaparecidas. O alto comissário da ONU para os Direitos Humanos, Zeid Ra’ad al Hussein, acredita que muitas delas podem ter sido assassinadas nas últimas semanas, tanto em Bama, onde foram encontrados dezenas de cadáveres jogados em poços, como em outros locais liberados há pouco tempo do controle de terroristas. “Alguns pais perderam a esperança de recuperá-las com vida. Aliás, se algumas conseguiram regressar um dia, não serão mais as mesmas”, assegura Ahmadu Jirgi, um funcionário local, que está em contato com as famílias.
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Calcula-se que o Boko Haram sequestrou aproximadamente 2.000 mulheres de todas as idades nos últimos anos, mas o caso das garotas comoveu o mundo por terem sido levadas tantas ao mesmo tempo e pela idade das vítimas. Por volta das 23:30, as estudantes, que se alojavam nos dormitórios do instituto, começaram a escutar disparos. Pouco depois, os terroristas chegaram ao centro que estava sendo protegido por um único segurança e foram carregando-as nos caminhões. Como não havia veículos suficientes, muitas tiveram que caminhar 15 quilômetros, sob a mira de fuzis, em direção ao bosque de Sambisa, onde o Boko Haram tem acampamentos.
De acordo com um relato de uma dezena de jovens que conseguiram escapar, recolhidos em um relatório elaborado pelo grupo Human Rights Watch, as adolescentes sofreram distintos tipos de abuso durante o cativeiro: trabalhos forçados e estupros. Muitas das garotas sequestradas em Chibok eram cristãs e foram obrigadas a se converter ao islamismo. Mas, como Abubakar Shekau, o líder do Boko Haram, advertiu em um vídeo, o destino da maioria era o casamento forçado, tanto em países próximos, Camarões ou Chad, quanto com os próprios terroristas, a quem também eram obrigadas a acompanhar, como cozinheiras ou transportadoras, nos ataques aos povos.
“Ninguém sabe exatamente onde estão. O governo disse que estavam em Gwoza, mas quando essa cidade foi tomada pelo Exército, não estavam. O rumor de que algumas foram assassinadas em Bama caiu como uma bomba nas famílias, mas não sabemos nada exatamente”, explica Jirgi.
Há um mês, o então presidente da Nigéria, Goodluck Jonathan, assegurou à emissora African Independent Television que as garotas estavam vivas, com o único argumento de que “quando os terroristas matam, mostram os cadáveres para nos intimidar. Então, estão vivas”.
No entanto, em 6 de abril, o alto comissário da ONU para os Direitos Humanos assegurava ao jornal nigeriano This Day que “nas últimas semanas chegaram cada vez mais notícias e provas de massacres e acreditamos que entre as vítimas podemos encontrar as garotas de Chibok”. No momento, não há nenhuma certeza.
O anúncio da possível morte das garotas está relacionado com os recentes êxitos na luta contra o Boko Haram. Há um ano, era um grupo que parecia impossível de ser parado, em pleno processo de expansão do seu califado islâmico. Povo a povo, cidade após cidade, os terroristas haviam conseguido consolidar sua presença em uma ampla zona com limites difusos no noroeste do país, da onde o Exército nigeriano havia sido expulso. No entanto, hoje em dia, o grupo está em plena retirada depois da intervenção no conflito de Níger, Chad e Camarões, e da recuperação de umas seis regiões por parte do Exército nigeriano. Os terroristas queimam as casas e assassinam os cidadãos sempre que são expulsos de um povoado. E Shekau já advertiu que as garotas seriam mortas. “É a única maneira para os combatentes voltarem a vê-las, no Paraíso”, disse.
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