(Diário de Cuiabá, 01/08/2015) Quem ama, não mata. Ou mata? Pelo menos não deveria, jamais. A dura realidade das estatísticas nos mostra que em muitos casos ‘quem ama, mata’. Não se mata por amor, é verdade; mata-se, sim, por vingança, machismo, ciúmes e outros motivos torpes que não se enquadram como amor. E as vítimas são em sua maioria esmagadora as mulheres e os agressores são maridos, namorados, companheiros…
Não há um dia sequer que os jornais e os noticiários de TV não tenham relatos de casos de mulheres que têm suas vidas ceifadas por quem lhes prometeu amor. E essas vítimas são cada vez mais jovens. Casos recentes mostram meninas de 14, 15, 16 anos mortas pelos namorados, tendo como principal motivo o ciúme. Essa semana, uma garota de 15 anos foi enforcada pelo namorado porque ele não aceitava a viagem dela com as irmãs. E assim como ela, muitas outras adolescentes estão sendo vítimas da violência de seus parceiros. Quem ama, mata!
O histórico das mulheres vítimas da violência doméstica tem na maior parte das vezes algo em comum: uma rotina de maus-tratos e humilhações praticada por seus agressores, que muitas relevam por acreditar que são fatos passageiros, e outras não denunciam por temor às suas vidas. O que começa com uma simples discussão vai se intensificando até culminar com a agressão fatal, principalmente quando a vítima resolve abandonar o agressor que não admite que ela se liberte do cativeiro, da vida de pesadelo. É o machismo arraigado que predomina, o sentimento de posse que dá direito sobre a vida do outro. Depois da vida ceifada, justifica: matou por amor.
A impunidade ainda é um grande obstáculo a ser vencido no combate à violência contra as mulheres. Embora a Lei Maria da Penha, promulgada há quase nove anos, seja de grande ajuda para melhorar o índice de denúncias – desde que foi criada, cada vez mais as mulheres estão denunciando seus agressores buscando por Justiça – ainda assim parece haver uma barreira que impede um avanço maior para penalizar aqueles que cometem este tipo de violência. O Judiciário ainda processa os casos com muita lentidão e há também muito machismo e preconceito entre delegados e juízes, que tendem a classificar a violência contra a mulher como um assunto de foro íntimo, relegado a um segundo plano diante de outras questões.
Precisamos mudar esse quadro com urgência, fazer valer a lei contra os agressores. O número de assassinatos de mulheres no país ainda é alto e isso mostra que a impunidade continua prevalecendo. É preciso mudar essa cultura machista, que faz com que sociedade encare a vítima como culpada, como se merecesse ser agredida. Quem ama definitivamente não mata, não maltrata. E mais: bater em mulher é crime.
Tânia Nana Melo é editora de Opinião do Diário
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