Filmes da atriz estão em cartaz em mostra no CCBB, no Rio
(O Globo, 08/09/2016 – acesse no site de origem)
Em cartaz no Central Cultural Banco do Brasil até a próxima segunda-feira, a mostra Pérola Negra: Ruth de Souza traz a filmografia da artista carioca, hoje com 95 anos. Primeira atriz negra a encenar um espetáculo no Teatro Municipal (“O imperador Jones,” de 1945) e a protagonizar uma novela (“A cabana de Pai Tomás”, de 1969), Ruth ficou consagrada no cinema por trabalhos em longas como “O assalto ao trem pagador” (1962), de Roberto Farias, e “Sinhá Moça” (1955), de Tom Payne e Oswaldo Sampaio. Ela diz, nesta entrevista, que é uma alegria ter o trabalho reconhecido e conta quais foram os papéis que mais a marcaram.
A senhora foi pioneira em diversas áreas, e muitos atores te creditam pelo que conquistaram. Como encara esse reconhecimento?
É uma alegria imensa ter o trabalho reconhecido. As pessoas dizem que abri portas, mas nunca parei para pensar sobre o assunto. Trabalhei muito nesses 70 anos de carreira. Nunca parei, o que é algo difícil para qualquer ator no mundo, ainda mais para um ator negro.
Além de talento, o que acha que foi essencial para seu sucesso?
Acho que as pessoas foram generosas comigo. Fiz teatro e cinema. Quando acabava um contrato, já surgia um outro convite e eu recomeçava a trabalhar no dia seguinte. Repito: nunca fiquei parada. E isso porque, antigamente, a cor da pele era uma característica muito marcante. Hoje, graças a Deus, a situação melhorou.
Como vê a representação da mulher negra no cinema?
Ainda faltam bons papéis para a mulher negra, mas é difícil explicar de quem é a culpa. Pode ter muitas origens.
Dos papéis que fez no cinema, qual foi o mais marcante?
Com certeza, o de “Sinhá Moça”. Concorri ao Leão de Ouro, no Festival de Veneza, e a repercussão foi muito grande. Mas também tenho um carinho especial por “O assalto ao trem pagador” e “Filhas do vento” (2004, de Joel Zito Araújo).
A senhora começou no teatro e se consolidou no cinema.
Temos histórias maravilhosas no Brasil que podem ser contadas ao mundo através do cinema. Fiz 20 e tantos filmes e gostaria de fazer muito mais. Mas, no fim do dia, cinema, televisão e teatro são iguais para mim. A única coisa que realmente importa é a qualidade do papel que você interpreta. A mídia, nesse sentido, não tem relevância.