Em um país marcado por grandes desigualdades, no qual as mulheres negras, apesar de representarem a maior parcela da população, estão em situação de alta vulnerabilidade em diversos aspectos, o setor empresarial exerce um papel crucial na promoção da equidade racial e de gênero, assumindo a responsabilidade de implementar mudanças significativas e estruturais. Por isso, são urgentes ações que promovam a plena inserção de mulheres negras no mercado de trabalho.
Visando colaborar com essa luta por mudança, na última quinta-feira (05), na sede da Associação dos Advogados de São Paulo (AASP), foi lançado o Guia Antirracismo e Antimachismo MUDE com Elas, um documento elaborado pelo CEERT, fruto do projeto MUDE Com Elas, parceria entre CEERT, Ação Educativa e Terre des Hommes, e criado com o objetivo de oferecer ferramentas práticas às organizações empregadoras para que possam enfrentar o racismo e o machismo no ambiente corporativo de maneira efetiva, construindo ações concretas que promovam o direito ao trabalho digno e a inclusão de jovens negras em ambientes organizacionais.
A situação das jovens e mulheres negras no mercado de trabalho
No Brasil, as mulheres ocupam 37% dos cargos de liderança sênior das organizações empregadoras, e quando olhamos para o recorte interseccional de gênero e raça, as desigualdades se escancaram ainda mais. Apesar de serem a maior parcela da população brasileira, 28% segundo o IBGE, apenas 2,6% das mulheres negras estão em cargos de liderança no Brasil, desigualdade que se repete também nas desigualdades salariais, posto que com o mesmo nível de ensino, mulheres negras com ensino superior ganham, em média, 159% menos que homens brancos no Brasil.
Estes são alguns dos dados concentrados no Guia Antirracismo e Antimachismo, que também reúne leis, conceitos, diagnósticos, metas numéricas e processuais, políticas de advocacy, estratégias para garantir a inserção de jovens negras em processos seletivos e diversas ferramentas práticas que podem auxiliar organizações empregadoras a combater o racismo e o machismo em ambientes corporativos e fortalecer a permanência dessas mulheres negras nas empresas a partir de políticas de DE&I e do compromisso de lideranças com tais práticas.
“Uma pesquisa realizada pelo CEERT em parceria com o Pacto Global da ONU mostrou que uma das dificuldades das empresas ainda é falta de conteúdo sobre o tema [empregabilidade de jovens negras], por isso achamos importante trazer esses conceitos e também esse glossário antirracista e antimachista [….] sabemos que estamos em um momento de derrocada deste debate dentro das empresas, e uma das formas de fortalecer esse debate é através dos dados.” reforça Julia Rosemberg, Psicóloga Social e Clínica e Pesquisadora do CEERT.
Além deste material, o projeto Mude com Elas também realizou duas publicações recentes com indicadores que apresentam o cenário atual das jovens negras no mercado de trabalho, e com as condições habitacionais das jovens negras em São Paulo, disponíveis gratuitamente na biblioteca do observatório.
Mário Rogério Teixeira, Diretor de Indicadores e Diagnósticos do CEERT e um dos coordenadores do Guia e das pesquisas publicadas, reforça a importância desses dados para a luta por equidade racial e de gênero no mercado de trabalho.
“Indicadores raciais são fundamentais para revelar as desigualdades que impactam a vida das mulheres negras, especialmente nas relações de trabalho, além de servirem como ferramentas para subsidiar políticas públicas antirracistas e apoiar as empresas na construção de planos estratégicos de equidade racial”, ressaltou Mário.
O CEERT, ao longo de seus mais de trinta anos de atuação, tem se dedicado a promover práticas e políticas antirracistas e antissexistas nas organizações, a partir de perspectiva interseccional. Este guia reforça o compromisso contínuo da organização com a promoção da equidade racial e de gênero no Brasil, especialmente no que diz respeito à inclusão e permanência das jovens mulheres negras no mercado de trabalho.