Ato reuniu cerca de 750 mil pessoas na capital dos EUA, além de 4 milhões em várias cidades do mundo
(Brasil de Fato, 24/11/2016 – acesse no site de origem)
No último sábado (21), cerca de 4 milhões de pessoas, em diversos países, participaram das marchas de mulheres por justiça social, igualdade de gênero e contra o avanço conservador no mundo, sintetizado na figura de Donald Trump, agora presidente dos Estados Unidos. A principal manifestação foi realizada em Washington, capital dos EUA, onde cerca de 750 mil pessoas se reuniram no mesmo local onde, no dia anterior, havia sido realizada a cerimônia de posse de Trump.
Entre as personalidades que participaram e discursaram no ato em Washington está a filósofa e ativista feminista Angela Davis, conhecida por ter sido uma das lideranças do Partido Comunista norte-americano e por sua militância no movimento por direitos civis no anos 1960, assim como por sua luta pública contra o racismo, o machismo e a desigualdade econômica e social nos EUA desde então.
Leia abaixo a íntegra do discurso de Davis, traduzido para o português por Juliana Borges:
“Em um momento histórico desafiador, vamos nos lembrar de que nós somos centenas de milhares, milhões de mulheres, pessoas transgênero, homens e jovens que estão aqui na Marcha das Mulheres. Nós representamos forças poderosas de mudança que estão determinadas a impedir as culturas moribundas do racismo e do hetero-patriarcado de levantar-se novamente.
Nós reconhecemos que somos agentes coletivos da história e que a história não pode ser apagada como páginas da internet. Sabemos que esta tarde nos reunimos em terras indígenas e seguimos a liderança dos povos originários que, apesar da massiva violência genocida, nunca renunciaram à luta pela terra, pela água, pela cultura e pelo seu povo. Nós saudamos hoje, especialmente, o Standing Rock Sioux.
A luta por liberdade das pessoas negras, que moldaram a natureza deste país, não pode ser apagada com a varredela de uma mão. Nós não podemos esquecer que vidas negras importam. Este é um país ancorado na escravidão e no colonialismo, o que significa, para o bem ou para o mal, a real história de imigração e escravização. Espalhar a xenofobia, lançar acusações de assassinato e estupro e construir um muro não apagarão a história.
Nenhum ser humano é ilegal!
A luta para salvar o planeta, interromper as mudanças climáticas, para garantir acesso à água das terras do Standing Rock Sioux, a Flint, Michigan, a Cisjordânia e Gaza; a luta para salvar nossa flora e fauna, para salvar o ar – este é o ponto zero da luta por justiça social.
Esta é uma Marcha das Mulheres e ela representa a promessa de um feminismo contra o pernicioso poder da violência do Estado. E um feminismo inclusivo e interseccional que convoca todos nós à resistência contra o racismo, a islamofobia, o anti-semitismo, a misoginia e a exploração capitalista.
Sim, nós saudamos o ‘Fight for 15’ [luta por salário mínimo de 15 dólares por hora nos EUA]. Dedicamos nós mesmas para a resistência coletiva. Resistência aos bilionários exploradores hipotecários e gentrificadores. Resistência à privatização do sistema de saúde. Resistência aos ataques contra muçulmanos e imigrantes. Resistência aos ataques contra as pessoas com deficiência. Resistência à violência do Estado perpetrada pela polícia e por meio da indústria do complexo prisional. Resistência à violência de gênero institucional e doméstica, especialmente contra mulheres trans negras.
Direitos das mulheres são direitos humanos em todo o planeta. E é por isso que nós dizemos ‘Liberdade e Justiça para a Palestina!’. Nós celebramos a iminente libertação de Chelsea Manning e Oscar Lopez Rivera. Mas também dizemos ‘Liberdade para Leonard Peltier! Liberdade para Mumia Abu-Jamal! Liberdade para Assata Shakur!’
Nos próximos meses e anos nós estamos convocadas a intensificar nossas demandas por justiça social e nos tornarmos mais militantes em nossa defesa das populações vulneráveis. Aqueles que ainda defendem a supremacia masculina branca e hetero-patriarcal devem ter cuidado!
Os próximos 1.459 dias da gestão Trump serão 1.459 dias de resistência: resistência nas ruas, nas escolas, no trabalho, resistência em nossa arte e em nossa música.
Este é só o começo. E termino nas palavras da inimitável Ella Baker: ‘Nós que acreditamos na Liberdade não podemos descansar até que ela seja alcançada!’ Obrigada.”
Confira sua fala legendada: