Documento construído de forma colaborativa reúne demandas para transformar a economia brasileira e a vida das mulheres negras
Na última quinta-feira (2), a Marcha Nacional das Mulheres Negras lançou um manifesto econômico que reúne reivindicações e caminhos para transformar a economia brasileira e a vida das mulheres negras. Construído em parceria entre o Comitê Nacional da Marcha e o Instituto NoFront, o documento demonstra que o movimento de mulheres negras tem um projeto econômico para o país que enfrenta desigualdades.
“Esse manifesto tem essa importância de conseguirmos amadurecer coletivamente sobre esse bem viver que queremos em termos concretos”, afirmou Juliana Gonçalves, jornalista e integrante do Comitê Nacional da Marcha, durante o lançamento.
O documento traz propostas em sete eixos: reparação econômica e institucional; trabalho e renda; política macroeconômica e fiscal; dignidade; investimento público; investimento privado; e economia internacional.
Entre as propostas estão a implementação de um programa nacional de perdão e negociação de dívidas para mulheres negras em situação de maior vulnerabilidade, LGBTQIA+, vítimas de violência e moradoras de quilombos, acompanhado de educação financeira gratuita.
Outro ponto traz a priorização de programas habitacionais voltados para mulheres negras, especialmente chefes de família e idosas, com juros reduzidos e entradas acessíveis. Há ainda a reivindicação por universalização do acesso à água, energia e saneamento, bem como a criação de cotas raciais em empresas que prestam serviço à administração pública e o incentivo ao setor privado para adotar certificações de diversidade e inclusão.
Um trecho do manifesto diz: “a economia brasileira se constrói sobre nossos corpos e territórios, mas raramente nos reconhece como sujeitas centrais dessa história. É da nossa realidade, marcada por raça, gênero, classe, sexualidade e territorialidade, que emerge a força de um outro horizonte econômico”.
Segundo as organizadoras, o manifesto tem o objetivo de mostrar que mulheres negras podem debater sobre economia, apesar desse tema, muitas vezes, ser abordado em termos difíceis que afastam a população periférica.
“Uma mulher negra que consegue administrar um salário mínimo, duas crianças e um aluguel certamente é uma grande gestora. E por que, mesmo com todas essas habilidades, somos sistematicamente excluídas do debate econômico?”, questiona Gabriela Chaves, diretora financeira do Instituto NoFront, que acrescenta que, com o manifesto, as mulheres negras provam que têm um projeto econômico para o país, mas que não têm sido ouvidas.