Perfis falsos no Facebook chamam a jovem de ‘macaca’ e dizem que ela ‘vai morrer igual Tiradentes, toda picotada’
(O Tempo, 04/09/2017 – acesse no site de origem)
A modelo e maquiadora Rafa Teles, de 20 anos, moradora de Belo Horizonte, tem sido vítima de ataques racistas e ameaças de morte nas redes sociais. Os ataques acontecem já há um ano e as fotos da modelo, que ficou em terceiro lugar no Concurso de Beleza Negra de Contagem no ano passado, são constantemente atacadas por perfis falsos no Facebook.
Um deles é de Isla Mendonça, que recentemente foi bloqueada após denúncias. Rafa conta que já bloqueou cerca de cinco perfis semelhantes e suspeita que os ataques estejam partindo de um ex-namorado branco e da atual mulher dele, que é negra. O casal é do Rio de Janeiro. Nas mensagens, os perfis que têm descrições nazistas e racistas e a foto de uma mulher branca referem-se à modelo como “macaca” e dizem ainda que ela “vai morrer igual Tiradentes, toda picotada”.
Durante a entrevista para a reportagem, Rafa recebeu uma mensagem contendo mais uma injúria, utilizando uma frase do deputado federal e pastor Marco Feliciano que foi publicada em seu Twitter no ano de 2013, dizendo que “afrodescendentes são amaldiçoados”. Na mensagem, o perfil ainda comenta a declaração, dizendo: “Se o pastor falou, quem sou eu para dizer o contrário, deveriam ser aniquilados, povo imundo”.
Desde 17 de abril deste ano, Rafa tem uma medida protetiva contra seu ex-namorado, o que não confere a sua segurança, segundo ela. “Eu não me sinto nada segura, acho que na verdade, segura eu estaria só se estivesse morta. Viva, eu sei que ele vai me procurar e a medida protetiva só vai funcionar quando eu virar estatística, aí eles vão suspeitar que seria ele”, conta.
Como uma forma de proteção, foi oferecido a Rafa abrigo na Casa Tina Martins, na região Centro-Sul de BH, que acolhe mulheres vítimas de violência e ameaça. “Mas eu não quero ficar longe da minha família, eu tenho só 20 anos”, conta.
Ameaças explícitas
Além das ameaças e injúrias que a modelo Rafa Teles vem sofrendo nas redes sociais, mascaradas por perfis falsos no Facebook e Instagram, a modelo conta que já foi ameaçada diretamente pelo casal. “Já ligaram aqui no telefone fixo da minha casa, com o DDD do Rio. Antes das ameaças nas redes sociais, essa mulher já me ameaçou explicitamente, e com o mesmo teor racista. E ela é negra”, conta Rafa.
“Eu sinto muita tristeza em ver uma mulher negra rebaixando outra, e também o companheiro dela, que é branco, agindo dessa forma racista”.
A modelo e o homem se conheceram nas redes sociais em 2015 e acabaram iniciando um relacionamento que durou cerca de um ano e três meses. Ele passava finais de semana na casa de Rafa, mas a família sempre foi contra o relacionamento. Depois de perceber que estava em uma relação abusiva, na qual o companheiro queria controlar as roupas e as amizades da modelo, ela decidiu colocar um fim no relacionamento. “Aí ele começou a se relacionar com essa outra mulher muito rápido, eu desconfio até que durante o nosso namoro eles já estavam juntos. E foi aí que os ataques começaram. Ela mandava mensagens pedindo para eu deixá-lo em paz, como se eu tivesse correndo atrás dele. Já fez um perfil meu no Facebook com fotos minhas e meu telefone dizendo que eu era garota de programa”, conta.
Sem investigações
Apesar da denúncia feita na delegacia no dia 17 de abril deste ano, o caso não está sendo investigado. Segundo a Polícia Civil, o motivo é que Rafa Teles não pediu explicitamente pela investigação ou pelo processo do autor, apenas uma medida protetiva. Ainda conforme a corporação, para que o inquérito seja aberto, a modelo deve procurar novamente a Divisão de Polícia Especializada da Mulher, do Idoso e do Deficiente, localizada na avenida Augusto de Lima no centro de Belo Horizonte, e pedir pela investigação.
Nesta terça-feira (5), Rafa tem uma audiência marcada no Juizado da Vara da Infância e Juventude e Centro Integrado da Mulher, na avenida Olegário Maciel, para dar prosseguimento à medida protetiva.
No Código Penal brasileiro, o crime de injúria racial, que compreende ofender a dignidade ou o decoro utilizando elementos de raça, cor e etnia da pessoa, prevê de um a três anos de prisão. No mesmo código, ameaçar alguém por palavra, escrito ou gesto, ou qualquer outro meio simbólico, prevê pena de detenção de apenas um a seis meses, que podem ser convertidos em pena alternativa, como multa.
Juliana Baeta