Mulheres negras e indígenas saem às ruas contra a violência

24 de julho, 2017

Marcha em São Paulo denuncia o racismo e a violência que vem se agravando com as reformas “genocidas” do governo Temer e as ações higienistas de Doria

(Rede Brasil Atual – 24/07/2017 – acesse no site de origem)

Contra as opressões que ainda imperam na sociedade e com o lema “Por nós, por todas nós, pelo bem viver”, mulheres negras e indígenas de São Paulo saem às ruas nesta terça-feira (25) para denunciar o racismo, o machismo e a violência. A iniciativa celebra o Dia Internacional da Mulher Negra Latino Americana e Caribenha, instituído em 1992 no 1º Encontro de Mulheres Afro-Latino-Americanas e Afro-Caribenhas, com o intuito de dar visibilidade à luta de mulheres negras no continente, e o Dia Nacional de Tereza de Benguela, líder do quilombo Quariterê no Mato Grosso em meados do século 18, comemorados nesta terça.

As ações são capitaneadas pela Marcha das Mulheres Negras de São Paulo, em articulação com mais de 50 entidades do movimento negro e de mulheres, como o Geledés Instituto da Mulher Negra, União de Negros pela Igualdade (Unegro), Coordenação Nacional de Entidades Negras (Conen), Marcha Mundial de Mulheres (MMM), dentre outros.

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“Queremos colocar a pauta do genocídio do povo negro, do feminicídio e do encarceramento em massa no centro do debate político”, afirma Juliana Gonçalves, integrante da marcha. Segundo ela, a violência contra as mulheres negras, seja em função da cor, do gênero, da orientação sexual ou por intolerância religiosa, vem crescendo “exponencialmente” nos últimos anos. “Marchamos porque queremos viver.”

Em São Paulo, este é o segundo ano em que as mulheres negras marcam a data. Já em 2015, juntamente com outras organizações nacionais, a marcha reuniu mais de 50 mil mulheres em Brasília.

As mulheres negras se manifestam também contra o governo Temer e seus projetos de reformas que retiram direitos: “Os golpistas impõem uma reforma trabalhista que acaba com a CLT. Mesmo sendo a maioria de trabalhadoras informais, com dificuldade de acesso a benefícios trabalhistas, as mudanças nas leis do trabalho nos atingem porque quando todo mundo perde, nós negras e indígenas perdemos mais que todos”, diz um trecho do manifesto das mulheres negras.

Elas também criticam o projeto de reforma da Previdência, que “vai nos fazer trabalhar até morrer”. “A gente chama de reformas genocidas, porque, a longo prazo, vão vitimizar, de maneira definitiva, parcelas da população, e em especial, a parcela preta e pobre”, diz a integrante da Marcha.

Para além dos slogans “Fora, Temer” e “Diretas Já”, Juliana reivindica uma democracia de fato: “Hoje, não vivemos numa democracia. Com o golpe, com o Temer, a gente percebe que estamos à parte deste sistema”, ressalta Juliana. Ela diz que políticas públicas em saúde e educação, voltadas à população negra, vêm sendo “esvaziadas” pelo governo Temer.

Em São Paulo, as mulheres denunciam a falta de vagas em creches, falta de medicamentos nas UBSs e cortes no programa Leve Leite, dentre outras medidas da gestão Doria que estão “vilipendiando os direitos das mulheres negras e pobres”. Ela também destaca a política higienista e de “criminalização da pobreza”, promovidas por Doria contra usuários na Cracolândia e contra moradores de rua, que também colocam a população negra como alvo preferencial. “A pobreza, não só em São Paulo, mas no Brasil, tem cor e sexo: é preta e feminina”, diz ela.

Marcha das Mulheres Negras de São Paulo se concentra a partir das 17h na Praça Roosevelt, no centro da capital paulista. Além das falas políticas, a marcha também conta com atrações culturais, com presenças do grupo Ilú Obá De Min, da DJ Luana Hansen, Mc Soffia, e intervenções artísticas.

De lá, elas seguem para o Largo do Paissandu, também no centro, onde encerram as mobilizações, que o movimento luta para que seja rebatizado como Largo 25 de Julho, para consolidar as comemorações do Dia Internacional da Mulher Negra Latino Americana e Caribenha.

Caso queiram e necessitem, as mulheres mães poderão deixar seus filhos pequenos na creche que vai funcionar no Centro de Memória do Circo, na Galeria Olido, na Avenida São João, 473 (sobreloja) – para usar o serviço basta preencher um formulário virtual.

Tiago Pereira

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