(Correio Braziliense, 21/11/2014) Pesquisa aponta que afrodescendentes têm mais dificuldades para conseguir uma vaga. Segundo os próprios, o problema é o preconceito. Em números gerais, em 10 anos, o Distrito Federal conseguiu diminuir números de pessoas desocupadas
Desempregado há seis meses, Thalisson da Silva, 21 anos, compareceu ontem à Agência do Trabalhador no Setor Comercial Sul para mais uma entrevista. O jovem negro relatou ter dificuldades para conseguir um novo posto no mercado de trabalho. Ele atribui isso ao preconceito por partes dos empregadores. “Já fiz várias entrevistas. Eles falam que vão ligar, mas no final fico sem resposta e sem emprego. É complicado”, afirmou ontem, Dia da Consciência Negra.
Parte do discurso de Thalisson está correta. Nos últimos dez anos, aumentou significamente a presença da população negra no mercado de trabalho do Distrito Federal. Apesar da constatação, as altas taxas de desemprego seguem entre aqueles de pele preta. Do total de desempregados (12,4%) na capital, 74% corresponde a afrodescentes. Os dados foram revelados pela Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED), desenvolvida pela Secretaria de Estado de Trabalho, Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan) e Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).
Thalisson está na média da pesquisa. “Fui em uma entrevista com quatro candidatos. Eu era o único negro. Imediatamente, falaram comigo que depois dariam retorno. Os outros já saíram empregados. Não falam, mas há um preconceito com relação à cor”, comenta Thalisson. Ele está em busca de emprego para ingressar na universidade. Morador de Sobradinho, pretende cursar direito. “Tenho que ir em busca do meu melhor, e sei que o caminho é o estudo. Acredito que assim terei mais oportunidades no mercado de trabalho”, completa.
A pesquisa também aponta que a taxa de desemprego entre as mulheres negras mantém-se tradicionalmente mais elevada em comparação aos demais grupos. Em 2013, observou-se uma diferença de 7,5% entre com o número de negras (15,9%) e homens não negros (8,4%). Quando comparadas às mulheres não negras, que também convivem com taxa de desemprego mais elevada, os dados apontam uma diferença nas taxas de desemprego de 3,3 pontos percentuais desfavoráveis às negras.
É o caso de Evanusia Francisca Gomes, 39 anos. Ela está desempregada há um ano. Durante muito tempo, trabalhou no comércio. Agora, tenta uma vaga no setor de telemarketing. Para ela, a população negra e, principalmente, as mulheres têm que lidar com a dificuldade para entrar no mercado de trabalho. “Olham muito a aparência. Se o cargo é para lidar diretamente com o público, preferem alguém não negro”, comenta. “Sempre dizem não. Nunca dizem que é diretamente ligado à cor, mas a gente percebe”, disse Evanusia.
A ativista do movimento Pretas Candangas Daniela Luciana da Silva atribuiu o desemprego das mulheres negras a dois tipos de preconceitos – o racial e de gênero. “Esses dados confirmam a nossa percepção: a mulher negra é a menos procurada, desejável e empregada no mercado de trabalho. A mulher naturalmente já tem menos oportunidades que os homens. A negra ainda sofre dois tipos de preconceitos articulados”, explica.
Qualificação e crédito
Entre 2003 e 2013, a taxa de desemprego total declinou consideravelmente, passando de 23,4% em 2003, para 12,4% em 2013. “Nós chegamos a esse índice da taxa de desemprego graças a um esforço do governo que expandiu as políticas públicas, como na qualificação profissional e no acesso ao microcrédito para empreendedores, além do investimento em obras que garantiram a criação de milhares de empregos, como os que vieram com a Copa do Mundo”, explicou Bolivar Rocha, secretário de Trabalho do DF.
A análise dos dados mostra que a redução do desemprego ocorreu tanto para o grupo dos negros quanto para o dos não negros. Porém, comparativamente, a taxa para os negros desempregados (13,4%) mostrou-se visivelmente superior a dos não negros (10,5% sem emprego), em 2013. Embora tenha ocorrido uma diminuição dos níveis de desemprego entre negros e não negros (12,0 e 8,7 ponto percentual, respectivamente), em 10 anos, a incidência do desemprego é mais acentuada entre os negros. “Todas as ações da Secretaria de Trabalho são voltadas para a classe baixa e carente. Desenvolvendo cursos de qualificação na Secretaria de Trabalho, percebemos que uma grande quantidade de alunos formandos são negros”, concluiu o secretário.
Acesse o PDF: Negros sofrem com desemprego (Correio Braziliense, 21/11/2014)