(Folha de S. Paulo, 31/07/2015) Os ataques racistas que a jornalista Maria Júlia Coutinho, a Maju, sofreu nas redes sociais no início deste mês, motivaram a criação de uma campanha nacional que está espalhando outdoors e “busdoors” com mensagens contra o racismo nas cidades de onde partiram os comentários ofensivos.
Com o objetivo de impactar e conscientizar a população sobre os efeitos da injúria racial na internet, a ONG Criola – organização da sociedade civil que atua na defesa e promoção de direitos das mulheres negras, mapeou 50 comentários que apresentavam esse tipo de crime e que foram postados em uma foto da jornalista na página do “Jornal Nacional”, no Facebook.
A campanha intitulada “Racismo virtual. As consequências são reais” chegou às ruas nesta terça-feira (25) e utilizou ferramentas de geolocalização para rastrear as cidades de onde partiram os comentários.
Nos 50 perfis identificados foi feita uma pesquisa para saber onde nasceram e moram os internautas com base em suas próprias declarações de informações, páginas de familiares e “check ins”. Dessas páginas, quatro foram comprovadas verdadeiras, o que resultou nas cidades de Guarulhos e Americana (SP), Recife (PE) e Feira de Santa (BA).
As mensagens estão nas respectivas cidades de onde saíram. Em Feira de Santa e Americana foram instalados outdoors e em Recife a campanha está nos ônibus. Guarulhos é o próximo local que vai receber a ação. A intenção é que a iniciativa se espalhe pelo país em breve.
A ONG conta que após a repercussão do caso de Maju, muitos comentários foram deletados da página.
A intenção da Criola é mostrar aos internautas que o crime de racismo não fica só no virtual, mas causa danos reais para quem sofre. Além disso, sensibilizar e mostrar aos moradores desses locais que o racismo existe sim e acontece em todos os lugares no país.
“O primeiro impacto desse crime é para quem é atingindo. É algo devastador, é uma doar pessoal. Mas todo mundo que já foi vitimado por racismo participa dessa dor novamente quando acontece”, diz Jurema Werneck, fundadora da ONG Criola.
Para não incitar o ódio e provocar uma “caças às bruxas” dos autores das ofensas, a campanha omitiu as fotos e os nomes dos responsáveis.
O crime de injúria racial está previsto no Código Penal e também é aplicado à internet. No entanto, a noção de ética e cidadania no mundo virtual ainda é muito fraca, de acordo com Jurema.
“O crime está na lei, mas estávamos vendo um retrocesso. Existe uma legitimação do racismo e precisamos continuar dizendo que isso não será aceito”, afirma.
Segundo a ONG Safernet, especializada em segurança na rede, em 2014, mais de 86,5 mil casos de ódio a negros e outras etnias foram relatados em 17.291 sites, aumento de 34,15% em relação a 2013.
Acesse o PDF: Ofensas contra Maju saem da internet e viram outdoor em ação antirracismo (Folha de S. Paulo, 31/07/2015)