(O Globo, 03/11/2015) Para Ministério, vítimas devem se manifestar, como fez a atriz
Desde a inauguração, em 2011, de uma ouvidoria específica para receber denúncias de racismo e injúria racial, 2.165 casos já foram relatados ao Ministério das Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos. O número vem crescendo a cada ano: 219 episódios em 2011; 413 em 2012; 425 em 2013, e 567 em 2014, o que representa um aumento de 158% durante o período. Este ano, até outubro, já foram atendidos 541 denunciantes. Para o secretário especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, Ronaldo Barros, é fundamental que as vítimas se manifestem, assim como a atriz Taís Araújo. Na noite de sábado, ela foi alvo de comentários racistas em uma postagem no Facebook e escreveu um longo texto contando o que havia acontecido. A Polícia Civil vai ouvir a atriz e abriu um inquérito para identificar os responsáveis.
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— É importantíssimo que os casos cheguem à ouvidoria e aos órgãos competentes (de investigação). Racismo é crime e não pode ser tolerado, seja nas redes sociais, no supermercado ou no shopping. Que a atitude da Taís Araújo sirva de referência para todos aqueles que se sintam violados em questões relacionadas aos direitos humanos — afirmou Barros.
Atualmente, a atriz está na televisão com o seriado “Mister Brau” e em cartaz em São Paulo com a peça “O topo da montanha”, que retrata a história de Martin Luther King, líder na luta pelos direitos civis dos negros. Em ambos os trabalhos, ela atua ao lado do marido, Lázaro Ramos, que ontem citou indiretamente o episódio após o fim da sessão: “Essa peça fala de respeito e afeto. O bastão agora está com vocês”. Outro personagem marcante na carreira de Taís foi a escrava, depois alforriada, “Xica da Silva”, na novela de mesmo nome. No fim da noite de domingo, a atriz citou as manifestações de apoio que recebeu nas redes sociais após denunciar o caso. “Eu quero ser para sempre todos vocês que me emocionaram hoje. #SomosTodosTaisAraujo”. Em outra mensagem, chamou a sociedade de “linda” e disse que “alguns poucos não nos representam”.
Para Ronaldo Barros, as situações que envolveram a atriz e a apresentadora Maria Júlia Coutinho, a Maju, vítima de comentários racistas nas redes sociais, em julho, acenderam o alerta. Segundo ele, são indicativos de que outras pessoas, menos conhecidas, podem sofrer com manifestações preconceituosas ainda mais agressivas. A ouvidoria recebe as denúncias no e-mail [email protected] e no telefone (61) 2025-7001.
— São casos contra pessoas de referência nacional, então imagina quem não tem esse reconhecimento. O resto da população é mais vulnerável — diz o secretário, defensor das ações afirmativas. — Quando todos estiverem em situações equiparadas, as pessoas não vão mais estranhar que um negro esteja fazendo sucesso.
MAJU: ‘Os cães ladram, mas a caravana passa’
A jornalista Maria Júlia Coutinho, a Maju, usou o Twitter para se posicionar sobre os comentários racistas direcionados à atriz Taís Araújo. “Linda, sexy, talentosa. Os cães ladram, mas a caravana passa. #SomosTodosTaisAraujo”. Em outra postagem, publicou um link para um vídeo do YouTube da música “Blues da piedade”, cantada por Cazuza e Sandra de Sá. “Vamos pedir piedade/Senhor, piedade/Para essa gente careta e covarde/Lhes dê grandeza e um pouco de coragem”, diz o refrão.
Em julho, Maju foi alvo de racismo na página do Jornal Nacional no Facebook e em seu perfil no Twitter. A jornalista respondeu com ironia a um internauta que fez um comentário agressivo: “beijinho no ombro”, escreveu.
Marco Grillo
Acesse o PDF: Taís Araújo: Governo federal já recebeu 2.165 denúncias de racismo (O Globo, 03/11/2015)