Sudão do Sul permite que soldados estuprem mulheres como pagamento

11 de março, 2016

(O Globo, 11/03/2016) País em guerra vive uma das crises de direitos humanos mais espantosas no mundo

Nesta sexta-feira, as Nações Unidas denunciaram autoridades do Sudão do Sul por permitir que combatentes atuem em estupros massivos de mulheres como forma de pagamento. Enquanto os sul-sudaneses vivem uma das mais graves crises de direitos humanos no mundo, a organização fez um apelo contra a espantosa violência da guerra no país. Desde 2013, mais de 2,3 milhões de pessoas abandonaram seus lares — enquanto outras dezenas de milhares morreram vitimizadas pelas atrocidades cometidas por grupo rivais.

Leia mais: Estado Islâmico usa contraceptivos para manter estupros de escravas sexuais (UOL, 15/03/2016)

População do Sudão do Sul pede abrigo na sede da missão da ONU no país (Foto: STR / AFP)

“Esta é uma das situações mais espantosas para os direitos humanos no mundo, com uso massivo dos estupros como instrumento do terror e arma de guerra — embora esteja de certa forma fora do radar internacional”, declarou a organização.

A entidade afirma ainda que as ações de violência sexual são geralmente cometidas pelas próprias forças governamentais do Exército Popular de Libertação do Sudão e por suas milícias afiliadas. No entanto, grupos de oposição e associações criminosas também vêm sendo responsáveis pelo abuso de mulheres e meninas.

O Alto Comissário da ONU para os Direitos Humanos, Zeid Ra’ad Al Hussein, comparou a casualidade destes crimes ao massacre de civis ou à destruição de bens da população civil durante a guerra. Mais de 1,3 mil estupros foram registrados em apenas um dos dez estados do país durante cinco meses do ano passado.

Segundo a ONU, os estupros fazem vítimas até mesmo meninas de nove anos. Dentre estas jovens, muitas são forçadas a casar com seus agressores. Já aquelas que ficam grávidas frequentemente sofrem com a estigmatização e a violência doméstica em suas comunidades.

— Diante da amplitude, da profundidade e da gravidade das acusações — além da repetição e das similaridades observadas no modo de operação — o informe conclui que existem motivos razoáveis para crer que estas violações podem ser consideradas crimes e guerra e/ou crimes contra a humanidade — afirmou Al Hussein.

O Sudão do Sul se tornou independente do Sudão em julho de 2011 após décadas de conflitos. Hoje, o país encontra-se afundado em uma guerra civil deflagrada em dezembro de 2013 — quando o presidente Salva Kiir acusou seu ex-vice-presidente, Riek Machar, de tentar derrubá-lo. Um recente acordo de paz trouxe Machar de volta ao antigo cargo, apesar de tensões persistirem.

O Sudão do Sul vem presenciando a escalada na violência que não poupa a população civil. Em relatório, as Nações Unidas afirmam que até mesmo crianças e deficientes físicos têm sido assassinados, queimados vivos, asfixiados em contêineres, executados, pendurados ou cortados em pedaços.

— Condenamos quaisquer crimes contra civis. Atrocidades foram cometidas por milícias usando uniformes do Exército. As tropas do governo operam sob regras estritas que proíbem mirar civis. Estamos investigando para determinar quem cometeu estes crimes hediondos — disse Ateny Wek Ateny, porta-voz de Kiir, ao “Guardian”.

60 ASFIXIADOS

Enquanto isso, a Anistia Internacional repudiou a atitude dos soldados pró-governo do Sudão do Sul que asfixiaram mais de 60 homens e crianças em um contêiner sob sol forte no ano passado. A organização pede que os envolvidos na história sejam processados pela Justiça.

Os depoimentos de 23 pessoas confirmam que as vítimas foram levadas à força e de mãos atadas ao interior do contêiner — instalação frequentemente utilizada como cela improvisada no país, onde as temperaturas costumam ultrapassar os 40ºC durante o dia. Mais tarde, as mesmas pessoas tiveram seus corpos retirados da instalação.

“As testemunhas descreveram a situação e disseram ter ouvido as pessoas presas chorarem e gritarem angustiadas, além de bater nas paredes do contêiner de carga, no qual não havia qualquer entrada de ventilação”, declarou a Anistia Internacional.

Soldados na cidade Koch, no Sudão do Sul, são fotografados após confrontos com rebeldes no país, um dos piores no Índice Ibrahim (Foto: Jason Patinkin / AP)

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