(G1, 17/03/2016) Louise Ribeiro se negava a reatar relacionamento com veterano de biologia. Vinícius Neres ocupa cela de 5 m² e toma banho de água fria na Papuda.
O reitor da Universidade de Brasília, Ivan Camargo, expulsou na noite desta quarta-feira (16) o estudante Vinícius Neres, preso há seis dias após assumir ter matado a ex-namorada em um laboratório do Instituto de Biologia. Na justificativa, o gestor afirma que o jovem infringiu o código de ética da instituição (veja documento abaixo). A decisão atende a solicitações de professores e estudantes, que haviam marcado um evento para esta quinta para exigir o desligamento.
Transferido para a Papuda no domingo (13), Neres ocupa sozinho uma cela de cinco metros quadrados, sem chuveiro elétrico e com bacia turca – sanitário que fica no chão – no Complexo Penitenciário da Papuda. O jovem alegou que teve um “ataque de fúria” quando Louise Ribeiro, que se recusava a reatar o relacionamento, quis abraçá-lo. A Polícia Civil, porém, trabalha com a hipótese de que o crime tenha sido premeditado, já que as janelas do laboratório estavam vedadas com papel pardo.
O rapaz também diz desconhecer a razão que o levou a cometer o crime, mas afirma saber que não foi por amor. “Eu ainda não sei por que a matei”, afirmou em coletiva à imprensa (veja vídeo abaixo). O jovem atualmente está isolado no Centro de Detenção Provisória da Papuda, por causa da comoção gerada pelo caso. “Definitivamente, não foi pelo motivo de amor.”
O assassinato aconteceu na noite de quinta. Louise foi dopada e depois teve 200 ml de clorofórmio despejado na boca. O produto é tóxico e causa morte. Neres, que era veterano da garota e monitor do Instituto de Biologia, prendeu então os pés e as mãos da menina e enrolou o corpo dela em um colchão inflável. O transporte foi feito em uma espécie de carrinho de mão até o veículo da vítima, que estava em uma área de cerrado no Setor de Clubes Norte.
O suspeito disse que cogitou violentar Louise após o crime, mas depois mudou de ideia. Ele chegou a atear fogo nas costas e na genitália da estudante. Neres voltou para casa de ônibus e no dia posterior ligou para a família da menina e ajudou a colar cartazes de “procura-se” na instituição. Ainda na manhã de sexta, ele ligou para a Delegacia de Repressão a Sequestros e, enquanto esperava a chegada de agentes, encontrou um policial militar no campus e se entregou.
A UnB realizou na segunda-feira (14) duas homenagens à jovem. Na primeira, pela manhã, amigos deram depoimento sobre a convivência com Louise e tocaram músicas para representá-la. Depois, plantaram um ipê rosa – cor preferida da menina – inaugurando o jardim central do Instituto de Biologia.
Pai dela, o tenente-coronel Ronald Ribeiro afirmou que gostaria de ter dito ao suspeito para aprender a respeitar quando as pessoas dizem “não”. “Respeitem, por favor, que quando alguém disser ‘não’ é ‘não’. Aprendam, aceitem isso. Se você realmente ama aquela pessoa, aprenda a admirá-la, isso que é importante. Isso que eu gostaria de ter dito ao Vinícius quando ele me ligou perguntando pela Loiuse. Eu disse: ‘eu quero conversar com você olhando no seu olho’. Mas, infelizmente, não foi possível”, declarou.
Na segunda, estudantes e professores se reuniram no teatro de arena e fizeram um minuto de silêncio pela memória da jovem. Eles também cantaram uma música para elogiá-la e discursaram sobre feminicídio.
A universidade instituiu luto por causa da morte da estudante. As aulas não foram suspensas, mas os professores receberam recomendação de liberar os alunos nos horários das homenagens. A reitoria disse que vai reforçar a iluminação e a segurança no período noturno para evitar novos crimes na UnB.
Crime
Louise e o suspeito tiveram um relacionamento de dois meses, segundo o advogado, embora Neres tenha dito que o namoro tenha durado nove meses. Ele disse que ainda era apaixonado pela estudante. Algemado, o rapaz deu detalhes do crime em uma coletiva de imprensa sem aparentar nervosismo.
Ao ser perguntado se achava que tinha algum problema mental, afirmou que já havia pensado na hipótese. “Eu quis fazer um tratamento contra depressão, principalmente, mas nunca cheguei a fazê-lo. Então precisaria de uma avaliação.”
Clique na imagem baixo para assistir o vídeo:
Segundo a Polícia Civil, Neres marcou um encontro com Louise no laboratório do Instituto de Biologia às 18h30 da quinta. Durante a conversa, o estudante falou para ela que iria se matar. “Eu mostrei o produto que ia utilizar e falei que ia me suicidar. Ela tentou me impedir, gritou para outras pessoas chegarem ao laboratório.”
O delegado-chefe da Delegacia de Repressão a Sequestros (DRS), Leandro Ritt, afirmou que o rapaz alegou ter tido um “ataque de fúria” no momento em que a vítima foi abraçá-lo. Nesse momento ele a dopou com clorofórmio e cometeu o crime, disse. Neres foi transferido para a Papuda no domingo.
Colegas descreveram a menina como risonha e doce. Sergipana, ela tinha 20 anos, era apaixonada por tartarugas e estagiava no Ibama. “Uma ótima amiga, sempre muito alegre, sempre prestativa. Apaixonada pela vida, pelas tartarugas, pela vida marinha”, disse Bruna.
“Não sei como vai ser esse semestre, olhar para frente e não ver aquele ponto loiro com rosa, que sempre sabia de tudo, até da economia dos países que ninguém conhece”, afirmou Lucas. “As saídas não serão as mesmas. Sempre vou achar que está faltando alguém.”
Vice-reitora e professora de biologia, Sônia Báo descreveu o momento como “muito difícil”. “Vamos lembrar da Louise com aquele sorriso, com a alegria que ela teve enquanto estava entre nós.”
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Raquel Morais e Jamile Racanicci
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