Acirramento das tensões dentro de casa pode gerar um salto na escalada da violência e resultar em maior risco de feminicídios, alerta promotora de Justiça
(Tarde Nacional/Rádio EBC, 30/03/2020 – acesse no site de origem)
O isolamento social por causa da pandemia da Covid-19 pode representar um risco ainda maior de acirramento da violência doméstica, especialmente para mulheres que são vítimas constantes deste tipo de agressão.
Vários países estão registrando aumento do número de casos, como explica a promotora de Justiça do Ministério Público de São Paulo, Fabíola Sucasas Negrão Covas.
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“Na China, as delegacias registraram três vezes mais casos. No Brasil já se anuncia um aumento de 9% das ligações no Disque 180”, afirmou.
A casa deveria ser o lugar mais seguro para a mulher neste período de quarentena, mas não é o que ocorre quando a violência também está confinada no mesmo ambiente. “Não só a ONU Mulheres, mas relatórios de direitos humanos da Human Rights Watch apontam para os impactos da violência de gênero em época de covid-19, em especial o risco de violência contra as meninas e contra as mulheres”, alerta a promotora.
Segundo ela, é preciso lembrar que o isolamento e o confinamento, mesmo fora desta pandemia de Covid-19, já é considerado uma forma de violência. “O isolamento é utilizado pelos agressores como uma forma de controle psicológico, a fim de ampliar e manter o poder deles sobre as mulheres. Também é considerado um fator de risco para as mulheres porque reduz o contato social da vítima com seus amigos, com seus familiares, reduz as possibilidades dessa mulher se defender, sair de uma situação de violência doméstica, criar uma rede de apoio e buscar ajuda.”
Companheiros e ex-companheiros figuram entre 88,8% dos casos de índice de feminicídio. Dentro de casa, as meninas também estão dentro de um cenário muito arriscado de violência sexual, assim como as mulheres idosas, que são agredidas pelos filhos adultos dentro deste cenário de maus tratos.
“O acirramento das tensões dentro de casa pode gerar o que chamamos de uma progressão por salto na escalada da violência, e resultar em um maior risco do feminicídio. Se antes a escalada poderia passar por vários anos, por vários períodos, por vários tipos de violência, é possível que as mulheres estejam agora em maior risco de encontrar, no feminicídio, o pior resultado deste cenário”, alertou.