Quando a violência doméstica aumenta na gestação e no pós-parto

18 de outubro, 2023 AzMina Por Natália Sousa

Sem emprego e por mais tempo em casa, mulheres nessa fase ficam isoladas de amigos e familiares, o que facilita os abusos

Mariana* tinha 18 anos e estava com 5 meses de gestação quando sentiu algo quente escorrendo por baixo da calça do uniforme. Correu para o banheiro e, dentro da cabine, viu que tinha uma mancha de sangue sujando a calcinha. No dia anterior, o pai do filho havia “forçado o sexo” mais uma vez. A violência sexual era sofrida silenciosamente, já que a família sempre via a situação como parte da vida conjugal.

Mais tarde, quando foi ao médico, recebeu a recomendação de repouso absoluto. Foram 160 dias na cama. A preocupação era garantir a saúde do bebê. Ninguém pareceu perceber que essa mãe era, antes de tudo, uma jovem mulher em situação de vulnerabilidade social, física e financeira, que precisava de cuidados. “Só consegui superar esses traumas depois dos 30 [anos], com a minha psicóloga e com meu atual marido, que me amparam bastante”.

Por meio do PenhaS – nosso aplicativo de enfrentamento à violência contra a mulher – o Instituto AzMina recebe relatos como esse, juntamente a pergunta: a maternidade é um fator de risco para as agressões? A reportagem d’AzMina coletou o depoimento de 83 mulheres, de diferentes estados brasileiros, que sofreram com a situação de ver a violência aumentar ao se tornarem mães. Também ouvimos especialistas e buscamos estudos recentes para entender esse problema.

Em 2022, mais de 18 milhões de mulheres foram vítimas de violência doméstica no Brasil. Nesse grupo, as mais agredidas por parceiros íntimos são mães. Os dados são do Fórum de Segurança Pública.

As violências, em contextos de maternidades, extrapolam as agressões físicas e psicológicas. Também são negados a essas mulheres recursos básicos, como assistência médica, comida ou dinheiro, em um período em que, muitas delas, perdem o emprego ou se tornam dependentes financeiramente. A maioria tem apenas o ensino fundamental e são negras.

Um estudo da FGV mostra que metade das mulheres perde o emprego depois da licença maternidade. E a baixa renda familiar é um fator de risco para a violência de gênero, como aponta essa outra pesquisa sobre violência doméstica na gravidez. Sem emprego e estando por mais tempo em casa, elas acabam isoladas das amigas e dos familiares, o que facilita os abusos e dificulta a saída do ciclo de violência.

Acesse a matéria no site de origem.

Nossas Pesquisas de Opinião

Nossas Pesquisas de opinião

Ver todas
Veja mais pesquisas