Análise de denúncias ao Disque 100 revela que racismo teve crescimento alarmante nas redes sociais, principal alvo são mulheres, por Letícia Alcântara

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Foto: Freepik

01 de setembro, 2025 The Conversation Por Letícia Alcântara

Tornou-se cada vez mais comum rolar o feed de uma rede social e se deparar com conteúdos racistas. Comentários, memes, posts — mais escancarados ou codificados — mostram como o discurso de ódio vem ocupando os ambientes digitais de sociabilidade.

Essa percepção não é apenas impressão: ela foi confirmada pelo novo relatório do Aláfia Lab, “Brasil, mostra sua cara! Retrato das vítimas de racismo online e o anonimato de seus agressores – Uma análise das denúncias de racismo registradas no Disque 100 entre 2011 e 2025”.

O estudo analisou denúncias feitas ao canal Disque 100, do Ministério dos Direitos Humanos, a partir de dados obtidos via Lei de Acesso à Informação. O resultado é alarmante: as queixas cresceram fortemente a partir de 2020 e atingiram um recorde histórico em 2024.

Isso preocupa porque, embora o Disque 100 seja um dos canais mais importantes do país, ele representa apenas uma das possibilidades de denúncia. Muitas pessoas recorrem a delegacias, ao Ministério Público, à sociedade civil — como a SaferNet —, às próprias plataformas digitais ou simplesmente não denunciam. Ou seja: mesmo diante do aumento expressivo de registros, os números refletem apenas parte da realidade, marcada por forte subnotificação.

Mulheres negras no centro da violência

Entre as vítimas, o padrão é claro: mulheres são maioria, 61,56%; homens representam 37,72%.

O recorte racial é ainda mais contundente: 91% das vítimas são negras. Dentro desse grupo, 66,5% se identificam como pretas e 24,5% como pardas. O dado revela um padrão de colorismo: quanto mais escura a pele, maiores as chances de sofrer ataques racistas.

A faixa etária mais atingida vai dos 18 aos 40 anos, período em que as pessoas costumam estar na universidade ou no mercado de trabalho. Em outras palavras, o racismo digital atinge em cheio a população em idade produtiva.

Esse achado dialoga com o sociólogo Luís Valério Trindade, que identificou que 81% das vítimas de discursos racistas no Facebook eram mulheres negras em processo de ascensão social. Segundo ele, os ataques ocorrem, muitas vezes, quando essas mulheres compartilham conquistas pessoais.

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