Seis jornalistas mulheres vítimas de ataques criticam a política de denúncia do Twitter

16 de março, 2020

Entrevistadas relataram que na maioria das vezes os conteúdos com ameaças explícitas ou ofensas misóginas não são retirados do ar

(Agência Pública, 16/03/2020 – acesse na íntegra no site de origem)

 Por Ethel Rudnitzki

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“Não é permitido fazer ameaças de violência contra um indivíduo ou um grupo de pessoas”, dizem as atuais regras do Twitter sobre violência, assédio e outros tipos de comportamentos abusivos na plataforma.

Mas, segundo seis jornalistas mulheres vítimas de ataques entrevistadas pela Agência Pública, as regras não foram aplicadas efetivamente em seus casos.

Mesmo em situações de ameaças explícitas ou ofensas misóginas, as entrevistadas relataram que os conteúdos não são retirados do ar – situações que contrariam as políticas específicas contra “comportamento abusivo” [tentativas de assediar, intimidar ou silenciar a voz de outra pessoa] e contra “propagação de ódio” [ataques contra outras pessoas com base em raça, etnia, nacionalidade, orientação sexual, sexo, identidade de gênero, religião, idade, deficiência ou doença grave].

Dois casos recentes ilustram a situação. No dia 11 de fevereiro, Patrícia Campos Mello, repórter da Folha de S.Paulo, foi difamada durante sessão da CPMI das Fake News. Os xingamentos logo foram para o ambiente online, endossados por deputados e autoridades. Milhares de perfis acusavam a jornalista de ter se insinuado sexualmente para conseguir informações, usando o trocadilho “dar o furo”. Informações pessoais da jornalista foram divulgadas e ataques de todos os tipos foram direcionados a ela na plataforma.

Também em fevereiro, a repórter Vera Magalhães foi alvo de ataques nas redes sociais depois de ter publicado uma reportagem na qual mostra que o presidente Jair Bolsonaro divulgou vídeo em seu WhatsApp chamando para manifestação contra o Congresso Nacional. A jornalista do O Estado de S. Paulo recebeu inúmeros xingamentos e teve seus dados pessoais e de sua família expostos.

Grande parte dessas ofensas e exposições contra jornalistas mulheres aconteceu no Twitter e ainda estão disponíveis na plataforma. A rede social tem sido usada por perfis falsos e automatizados para a manipulação do debate público e realização dos chamados linchamentos virtuais.

“Não encontramos violação das regras”

Na grande maioria das denúncias, o Twitter enviou a mesma resposta por e-mail as jornalistas. “Estamos entrando em contato para informar que, após examinarmos as informações disponíveis, não encontramos uma violação das nossas regras no conteúdo que você denunciou.”

A repórter Amanda Audi, do The Intercept Brasil, por exemplo, virou vítima de ataques constantes em seu perfil depois de ter publicado as denúncias da Vaza Jato. Além de xingamentos e difamações, a jornalista foi ameaçada em 21 de julho do ano passado: “Chora vadia, sua hora está chegando”. E recebeu como resposta que não havia violação. “Algumas vezes, um comentário isolado em uma conversa mais abrangente, ou uma opinião que é extremamente divergente da sua, pode não ser uma violação”, dizia o e-mail da plataforma.

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Por Ethel Rudnitzki

Acesse esta reportagem na íntegra no site da Agência Pública

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