Não dá mais para que partidos – particularmente aqueles que se colocam na disputa de uma agenda progressista e de direitos humanos – não se comprometam com este dever e adotem uma postura negligente em relação a essas vidas
É ano eleitoral e os olhares e recursos partidários estão voltados para as eleições municipais de 2024. Esse ano, o fundo eleitoral – que alcança R$4,9 bilhões – será o maior da história das disputas municipais. Porém, é preciso que mulheres negras, periféricas e LBTI+ sejam prioridade e que os partidos desafiem a mensagem que os algozes de Marielle Franco deixam à sociedade, alimentando a ideia de que nossos corpos são descartáveis. Marielle Franco não era a única parlamentar carioca que defendia direitos humanos e atuava no enfrentamento às violências e desigualdades cotidianas. Mas foi ela a parlamentar que teve sua vida arrancada a partir da expressão mais brutal da violência política de gênero e raça: o feminicídio político. Uma mulher negra, mãe, socialista, bissexual e favelada cuja morte foi encomendada. Um corpo tratado como matável, mesmo ocupando um espaço de poder e visibilidade.
Diante disso, é profundamente decepcionante que o fim da violência política não seja prioridade dos dirigentes de partidos políticos nessa corrida eleitoral. Os partidos precisam cumprir adequadamente a Lei de Violência Política, atuando para prevenir e combater este tipo de violência que atravessa e interrompe a trajetória política de mulheres negras, cis, trans e travestis, defensoras de direitos humanos. Além disso, devem respeitar as regras de paridade de financiamento de candidaturas negras e as cotas de candidaturas femininas – ferramentas importantes para reimaginar a fotografia do poder no Brasil.