Depois de 6 anos da execução da vereadora Marielle Franco, maior grupo populacional do País ainda enfrenta obstáculos para assumir espaços da política institucional
“O aumento da representatividade de mulheres negras eleitas desafia as normas e estruturas de poder estabelecidas”, diz a militante Keit Lima. A moradora da Brasilândia (zona Norte de São Paulo) quer ser uma dessas representantes e, antes que o Carnaval terminasse de vez, lá estava ao lado de Guilherme Boulos (PSOL) lançando sua pré-candidatura a vereadora na capital paulista, nas eleições que acontecem em outubro deste ano.
Keit não é novata no assunto. Em 2020, recebeu 11 mil votos e por pouco não foi eleita para uma das 55 cadeiras da Câmara Municipal. Em 2022, concorreu a deputada estadual, teve 36 mil votos e novamente bateu na trave. Financiar e colocar uma candidatura de pé não são as únicas dificuldades – e ela está mais preparada para isso. Em 2024, o desafio sobe de patamar: é a violência política nas redes e ruas.
Que mulheres negras seguem sendo violentadas e desprotegidas, estamos cansadas de gritar o nome das nossas e gritar presente, quero gritar apenas: eleita! E isso deve ser um compromisso de todos da sociedade”, observa Keit.
Nesta quinta-feira (14/3), completam-se 6 anos da execução da vereadora carioca Marielle Franco (PSOL) e de seu motorista Anderson Gomes – a investigação do caso ainda não concluiu quem seria o mandante nem a motivação do crime.
Desde então, o número de mulheres negras candidatas e eleitas aumentou nas eleições seguintes – e o risco que isso representa acompanha o crescimento.
Apesar de as mulheres serem 51,5% da população brasileira de acordo com o Censo 2022 do IBGE, na Câmara Federal elas representam apenas 17% da composição, segundo o Observatório Nacional da Mulher na Política. E enquanto as pessoas negras (pretas e pardas) correspondem a 55,5% da população do País, são apenas 26% entre parlamentares.