Violência sexual: biologia ou cultura?

08 de julho, 2014

(Brasil Post, 08/07/2014) Homens têm uma chance 882% maior de cometer crimes violentos, de acordo com David Eagleman, em seu livro Incógnito. A amígdala, responsável pelo comportamento sexual e agressivo – mais especificamente pela ativação dos núcleos corticomedial e basolateral – é maior no cérebro masculino. Já o córtex pré-frontal, responsável por resoluções de conflitos, tomada de decisões e comportamento social, é maior e amadurece mais cedo em mulheres. Por isso elas controlam melhor seus impulsos.

A anatomia do cérebro masculino, portanto, pode explicar a conduta agressiva prevalecente nos homens, mas as razões por que muitos violam os direitos das mulheres para satisfazer o instinto não se justifica com a biologia.

A moda de divulgar fotos e vídeos de abusos em metrôs pela internet, lançada recentemente pelos “encoxadores” brasileiros, traz consigo uma realidade que reforça a mentalidade sexista da população. Mais revelador que a quantidade de homens que aderiram ao esporte de atacar as passageiras é o número de seguidores de suas páginas na internet. Uma delas, antes de ser retirada do ar, contava com 12 mil “curtidores”. São pessoas que podem não ter um histórico de violência, mas que curtem fotografias de mulheres em situações humilhantes.

Em países onde a discriminação contra mulheres é grande, a incidência de casos de violência sexual é alarmante, outra prova da influência social e cultural sobre o comportamento masculino.

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Um amplo estudo realizado por agências parceiras Organização das Nações Unidas (ONU) em seis países da região pacífico asiática, revelou, no final de 2013, que naquela parte do mundo um a cada quatro homens já estuprou uma mulher.

A maior parte das agressões acontece dentro de casa, com a própria parceira. Entre 70% e 80% dos homens – dependendo do país – afirmaram que usam da força simplesmente porque consideram sexo um direito deles, independentemente de ser consensual. Ou seja, a prevalência está enraizada em aspectos culturais, muitas vezes ligados à desigualdade dos sexos.

Esses dados mostram o que o psicólogo e cientista cognitivo Steven Pinker já afirmou em seu livro Tábula Rasa: violência sexual pode não estar tão ligada ao poder e controle, como muitos afirmam. Pode estar relacionada primariamente a sexo em si, e como muitos homens utilizam violência para conseguir o que querem, assim é com o sexo. Seria um comportamento oriundo da menor habilidade masculina em compreender uma mente diferente da sua, já que os estupradores subestimam os danos psicológicos que seus atos causam às vítimas, conforme concluiu o psicólogo David Buss, autor de Evolução do Desejo e Paixão Perigosa.

Tanto o papel social de conscientização tem importância, que, de acordo com Pinker, em seu mais recente livro Os Anjos Bons da Nossa Natureza, os movimentos feministas no Ocidente reduziram drasticamente as taxas de estupro e violência doméstica desde 1970.

Enquanto a necessidade de exibir um comportamento que a psique masculina relaciona com virilidade for maior que a atitude de não aceitar abusos contra a mulher, a agressão sexual se manterá afastada da casa das barbáries eventuais. Enquanto a sociedade acredita que os homens têm pouco controle sobre seu apetite sexual e cabe às mulheres evitar os ataques, a violência sexual continuará corriqueira.

Como afirmou Martin Luther King, “o que mais preocupa não é o grito dos violentos, nem dos corruptos, nem dos desonestos, nem dos sem ética. O que mais preocupa é o silêncio dos bons”.

Michele Müller – Jornalista com especialização em neurociências, escreve para a revista Psique e outras publicações de conteúdo científico.

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