O reconhecimento da violência contra mulheres com deficiência enfrenta desafios entre suas intersecções uma vez que depende da conscientização do que é violência de gênero, e contra pessoa com deficiência, já que estudos apontam que uma mulher que tenha algum tipo de deficiência tem três vezes mais chances de sofrer violência do que homens que vivem com a mesma condição física. Assim, a violência contra pessoas com deficiência, se aproxima das relações de cuidado. Com agressores próximos da vítima, assim como acontece no cenário de violência contra pessoas idosas.
(Agência de Notícias da Aids, 08/11/2018 – acesse no site de origem)
Essa realidade é agravada pelo fato de que mulheres com deficiência não acessam ou tem dificuldades de acessar os serviços de denúncia e atenção devido a falta de informação e acessibilidade.
A pesquisadora Anahí Guedes falou sobre uma consequência da falta de preparo de familiares e profissionais de saúde que geram uma “deficientização do HIV/aids, já que mulheres com deficiência realizam menos exames ginecológicos preventivos e a experiência da deficiência como um todo se torna solitária, em um contexto de pouco diálogo e muito estigma.” Nesse sentido, a sexualidade da pessoa com deficiência, como se fossem seres humanos assexuais, que não praticam sexo nem outras formas de relacionamento.
A pesquisadora enfatiza que todo e qualquer ser humano, independente de condições físicas precisam de cuidados. “Somos cuidados quando nascemos, somos cuidados quando morremos”. No entanto, a Anahí defende que a deficiência é, quando muito, uma experiência familiar com recorte de gênero, uma vez que a responsabilidade do cuidado fica a cargo, na maioria das vezes, das mulheres da família. “São as cuidadoras. São mulheres, mães, avós que estão nesse exercício. Muitas vezes são mulheres que abdicam de projetos pessoais e profissionais para o exercício do cuidado.”
Mudança de Consciência
A ausência de consciência feminista nos movimentos de pessoas com deficiência no Brasil é um agravante dessa realidade, denuncia a pesquisadora. “Vê-se que não havia preocupação com uma agenda de gênero. Não há sequer consciência de direitos humanos
Nas pautas feministas e de políticas públicas para mulheres o recorte da deficiência estava apenas em processo de construção há alguns anos. Essa mudança é fruto das intervenções de mulheres com deficiência desses grupos. “É através da inserção dessas pessoas em outros movimentos é que obteremos avanços inclusivos”, defende.
A experiência do movimento de pessoas com deficiência no Uruguai no que se refere a acessibilidade a informações básicas também serviu de inspiração. O ativista Lucas Mangini é uma pessoa surda e falou sobre a infantilização daqueles que vivem em condições semelhantes à sua. Além disso, ele criticou a exclusão dessas pessoas nas campanhas de educação sexual e citou exemplos de violências sofridas por pessoas com deficiência que buscaram acesso à saúde sexual.
Na busca de preencher essa lacuna, criou-se uma solução para que pessoas surdas pudessem encontrar informações em sua própria linguagem. O “Decímelo a Mí ” nasceu da necessidade de jovens surdos dialogarem com outras pessoas em um ambiente onde não haja discriminação e liberdade para o diálogo. Lucas explicou que muitos surdos precisam encontram no google esse tipo de informação uma vez que muitas pessoas capacitadas não conseguem se comunicar através da linguagem de sinais. O site do projeto pode ser acessado aqui.
Jéssica Paula ([email protected])