35% das mulheres já sofreram assédio sexual no trabalho

feche-as-maos-digitando-no-teclado

Foto: Freepik

02 de outubro, 2025 Meio&Mensagem Por Lidia Capitani

Pesquisa destaca panorama do assédio sexual e moral no ambiente de trabalho no Brasil e aponta cenário de alto custo para empresas e pessoas

A nova edição do estudo Trabalho Sem Assédio 2025, conduzida pela Think Eva em parceria com o LinkedIn, aponta que mais de um terço (35%) das mulheres já sofreram assédio sexual e apenas 10% delas recorreram a canais de denúncia.

Em comparação a 2020, houve uma diminuição no percentual de mulheres que sofreram assédio (47% em 2020) e um aumento entre as que recorreram a recursos institucionais (apenas 5% em 2020). Entretanto, uma em cada 6 profissionais ainda pedem demissão após casos de assédio, número que permaneceu constante no período.

Assédio sexual

De acordo com a pesquisa, mais de 35% das entrevistadas já sofreram assédio sexual no ambiente corporativo. Dentre elas, mais de 65% têm renda de até 5 salários mínimos, enquanto aquelas com renda acima de R$ 15 mil representam 10% da amostra.

Além disso, o nível hierárquico segue a mesma lógica: as pessoas em cargos pleno e sênior (45%) e assistentes (29%) são as que mais relataram sofrer com assédio sexual, frente a 14% entre diretoras e executivas.

Esses dados demonstram como o assédio é um exercício de poder que o assediador impõe sobre a vítima. Embora exista assédio em todos os níveis hierárquicos, os alvos preferenciais são mulheres mais pobres e em níveis hierárquicos intermediários, além de terceirizadas. Logo, costuma ser acentuado pelas desigualdades de raça, classe social, renda e região, conforme pontua o estudo.

Mais conscientização

Um dado que contrasta com a primeira edição da pesquisa, de 2020, segundo as pesquisadoras, é o entendimento das mulheres sobre o tema. Em 2025, 91% das entrevistadas sabem o que é assédio e quase metade (48%) afirmam conversar com frequência sobre o assunto.

De acordo com Ana Claudia Plihal, executiva de soluções de talentos do LinkedIn no Brasil, houve um aumento na conscientização sobre o assédio entre as mulheres, que anteriormente ainda existia uma parcela que enxergavam tais atos como “brincadeiras”.

Nesta edição, as atitudes que configuram o assédio já são melhor compreendidas entre as mulheres. Entre 70% e 80% identificam como assédio sexual: contato físico não solicitado, mensagens de cunho sexual, solicitação de favores sexuais e pressão para encontros.

Entre 50% e 70% das entrevistadas entendem como assédio atitudes como olhares lascivos, brincadeiras e piadas de cunho sexual, elogios de ordem não profissional e comentários sobre o corpo. Entretanto, a pesquisa também identificou uma lacuna na compreensão das formas de assédio entre os homens.

O estudo também ressalta que tais formas de violência são constantes: 16% das pessoas que viram ou sofreram assédio sexual testemunham todos os dias, sendo 59% delas pessoas pretas e pardas. “A alta frequência dos casos vividos ou presenciados revela que esse tipo de crime ainda não é visto com a importância devida”, destaca o texto.

Consequências do assédio

Para além dos impactos reputacionais e legais que o assédio sexual pode trazer, existem consequências na saúde e bem-estar das vítimas. Entre as reações, as mulheres relataram sentir nojo, raiva, humilhação, insegurança, vergonha, vulnerabilidade, impotência, ansiedade, medo, vergonha, culpa, entre outros.

Sob a ótica de raça, as mulheres não-brancas relatam sentir mais raiva, enquanto as brancas destacam o nojo. Já sob a perspectiva de renda, aquelas com menor salário afirmam sentir mais insegurança.

Entre as consequências individuais, as vítimas dizem sentir constante medo e desconfiança, desânimo e cansaço, sintomas de ansiedade e depressão, diminuição da autoconfiança e autoestima. Quanto às sequelas profissionais, o estudo destaca mudança de expectativas em relação à carreira, afastamento de colegas do trabalho, solidão e pior performance no trabalho.

Falta de apoio e transparência

Após sofrer assédio, as mulheres relataram que 35% contaram à pessoas próximas e 21% não fizeram nada, o que reforça o baixo envolvimento das empresas.

Entre aquelas que recorrem aos recursos organizacionais, 15% envolveram o RH, 11% levaram para os grupos de apoio e afinidade e 10% usaram os recursos de denúncias anônimas. Ou seja, as estruturas organizacionais de denúncia e apoio fazem parte do repertório de ação para apenas um terço delas. Um dado mais alarmante é que 15% disseram que o assédio sexual as levou a pedir demissão.

A principal barreira que impede as mulheres e testemunhas de denunciar é a impunidade (55,7%), seguida do medo de serem expostas (55,3%), do descaso (46%), da descrença (41%) e do receio de ser demitida (41%). Outras barreiras identificadas foram a incerteza sobre se foi assédio, o medo de colocarem a culpa sobre a vítima e o sentimento de culpa.

Assédio moral

Nesta edição do estudo, as pesquisadoras também analisaram o panorama do assédio moral e identificaram que 41% dos homens e 46% das mulheres já sofreram este tipo de violência no trabalho. A pesquisa destaca que o assédio moral se caracteriza quando há pessoalidade, ou seja, é direcionada a alguém ou a um grupo; intencionalidade, quando há intenção de causar dano; e habitualidade, quando é recorrente.

A maioria dos entrevistados afirmam saber o que é assédio moral e citam gritos, xingamentos, humilhação, brincadeiras indevidas e ameaças como ações associadas à prática. Mesmo assim, as mulheres demonstraram ter maior repertório sobre o assunto do que os homens, e identificaram algumas atitudes como assédio com maior frequência do que eles, incluindo minimizar os problemas relacionados ao ato, comentários inadequados sobre aparência e humilhação e brincadeiras indesejadas em público.

Em relação às reações, os homens destacaram sentir maior irritabilidade e tristeza, enquanto as mulheres afirmaram sentir raiva, ansiedade, humilhação, vulnerabilidade e medo. Tal diferença, segundo o estudo, pode estar relacionada ao fato de que o machismo costuma inibir os homens de demonstrar sentimentos e emoções, de forma a minimizar os atos de assédio.

Impactos

As consequências do assédio moral são semelhantes aos do assédio sexual, porém, o estudo destaca alguns impactos diferentes como difamação, isolamento, transferência e demissão pela empresa. Já na vida pessoal, o assédio moral foi associado a sintomas físicos como dores de cabeça e náuseas e distúrbios alimentares para além dos impactos já destacados anteriormente como cansaço e desânimo, sintomas de ansiedade e depressão, diminuição da autoestima e autoconfiança e dificuldade de confiar nas pessoas. Entretanto, as mulheres relataram ter impactos maiores sobre sua saúde mental do que os homens.

Semelhantemente ao assédio sexual, grande parte das vítimas (38%) recorreram a pessoas próximas e 21% não fizeram nada. Mesmo que, para ambos os gêneros, a ação mais comum seja contar com o apoio de pessoas próximas (41% para as mulheres e 33% para os homens), as mulheres apresentam esse comportamento com maior intensidade. Em contrapartida, eles recorrem mais aos sistemas de apoio das empresas, como o RH, canais de denúncia anônimos ou grupos de apoio (47,8% dos homens versus 38,8% das mulheres).

A negligência, impunidade e o medo de exposição também são os maiores empecilhos para a realização da denúncia do assédio moral. Entretanto, uma barreira diferente foi mencionada: 29% relataram o sentimento de que precisam aguentar esse tipo de comportamento no trabalho.

Outra diferença é que, para o assédio moral, o medo de ser demitido impede 48,5% das pessoas de denunciar, ficando 6,7 pontos percentuais acima quando comparado ao assédio sexual. Isso porque a definição do assédio moral costuma ficar em uma área mais cinzenta do que o sexual.

“A percepção sobre barreiras para a realização das denúncias de assédio demonstra a falta de confiança nos processos e nos canais de denúncia das empresas. O medo de retaliação, de exposição e dúvidas sobre o processo indicam respostas organizacionais ainda insuficientes ou desestruturadas”, ressalta o texto.

Acesse a matéria no site de origem.

Nossas Pesquisas de Opinião

Nossas Pesquisas de opinião

Ver todas
Veja mais pesquisas