(Folha de S. Paulo | 30/08/2021 | Por Isabella Menon)
“Por que você não gritou? Não tentou bater nele? Essa é a primeira vez que vejo uma pessoa ser violentada e não lutar.”
As frases vêm do relato que Júlia (nome fictício) enviou à campanha #MeTooBrasil, narrando o abuso que sofreu quando tinha 14 anos. No depoimento, ela relembra como seu padrasto a assediou, como foi rejeitada pelo pai ao buscar ajuda e maltratada ao denunciar o caso para o delegado da sua cidade.
Lançado no Brasil há um ano, o movimento #MeTooBrasil, que acolhe vítimas de violência sexual, se inspirou na campanha americana de mesmo nome que expôs abusos praticados em Hollywood e que resultou, em março de 2020, na condenação do produtor Harvey Weinstein a 23 anos de prisão por agressão sexual e estupro.
Neste primeiro ano, a campanha brasileira recebeu 151 relatos relacionados à violência sexual. Desses, 77 usaram a plataforma como forma de relatar suas histórias, como Júlia; as outras 74 vítimas buscaram ajuda efetivamente —68 desses atendimentos resultaram no encaminhamento para rede de proteção do Estado.