Deep fake com mulher estuprada por anos pelo pai escancara exploração do sofrimento em perfis ‘motivacionais’, por Fabiana Moraes

Mulher coagida. Crédito_ Molly Belle. Banco Free Unsplash Acesso_ https___unsplash.com_photos_a-xEUwYSPLw (1)

Foto: Molly Belle/Unsplash

21 de junho, 2023 The Intercept Brasil Por Fabiana Moraes

Vídeo criado com inteligência artificial manipula história de Severina da Silva e revela até onde vai sensacionalismo caça-clique das tragédias humanas nas redes.

As histórias humanas, seus dramas, suas conquistas, suas tragédias, seus amores, sempre provocaram – e sempre provocarão – nossa curiosidade e atenção. Lembro-me de uma sessão no programa de rádio comandado por um famoso comunicador local, Samir Abou Hana, na qual ele lia, ao meio-dia, uma carta enviada por ouvintes. Havia uma música tocante ao fundo enquanto ele narrava as histórias, geralmente cheias de dor e lágrimas. Eu ficava completamente absorvida, impressionada com os tantos possíveis universos que cabiam em uma simples casa, em uma simples pessoa.

A multiplataformização das mídias e o estrondoso aumento de espectadoras e espectadores das multitelas, no entanto, nos trouxe a um outro patamar do consumo da vida alheia. Nele, veracidade, falsificação, deep fake, monetização do sofrimento e questões éticas estão ainda mais presentes e fragmentadas, todas servindo de termômetro de nossos caminhos enquanto sociedade. Me perguntei várias vezes para onde diabos estamos indo quando me deparei com um vídeo meio tosco no qual vemos a figura de Severina Maria da Silva, de 57 anos, narrando sua história de vida. A peça circulou pelo Instagram, TikTok e Kwai.

Eu conheço Severina há mais de uma década. Fui até sua casa, em Itaúna, zona rural de Caruaru, Pernambuco, no primeiro semestre de 2012, quando trabalhava como repórter especial do Jornal do Commercio. Meses antes, eu ouvi falarem no rádio a respeito do seu julgamento e absolvição. Uma notícia rápida, como várias outras que eu iria encontrar depois sobre ela. A maioria não informava nos títulos que aquela mulher de pele escura e traços indígenas era vítima de mais de 5 mil crimes, como pontuou a justiça. Que ela foi estuprada a partir dos 9 anos de idade, durante quase três décadas, pelo pai, Severino Silva. Que Zé da Fuba, como era conhecido, a engravidou 12 vezes e que cinco filhos se criaram. Os outros sete morreram meses após nascer ou mesmo na barriga de Severina: um, após a então adolescente ser espancada pelo homem que deveria protegê-la.

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