O UOL Esporte começa a publicar a partir de amanhã (14) relatos em primeira pessoa de mulheres, entre atletas e ex-atletas, que sofreram violência de gênero e abuso sexual enquanto praticavam artes marciais.
(UOL Esporte, 13/08/2019 – acesse no site de origem)
A reportagem entrou em contato com mulheres que praticaram esportes como judô e jiu-jitsu e sofreram agressões ou estupros por outros atletas. Em um dos casos, a vítima foi abusada pelo professor quando tinha 13 anos. Em outro, as agressões físicas e sexuais se repetiram durante dez anos antes do ciclo de silêncio ser quebrado. Todos os acusados são faixa-preta de seus esportes.
A Lei Maria da Penha completou 13 anos neste mês e foi sancionada como ferramenta para coibir a violência contra mulheres. Mesmo com a notoriedade da legislação e adoção de medidas protetivas por parte das autoridades brasileiras, a desigualdade de gênero e o abuso físico, psicológico e sexual continuam a ser um problema cotidiano na vida das mulheres.
A cada dia acontecem 164 estupros no Brasil – um caso a cada 9 minutos – aponta o Instituto Patrícia Galvão. O número é alarmante, mas a situação é
ainda pior porque somente uma em cada quatro vítimas procura a polícia, revelou pesquisa do Datafolha e Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
As pesquisas também mostram a proximidades com os agressores. Em cada quatro mulheres vítimas, três sofreram violência por parte de pessoas
conhecidas, o que inclui parentes, amigos, colegas de trabalho e, como mostra esta série de reportagem, companheiros de esporte.
No mundo das lutas, a violência de gênero também é subnotificada. Não há estatísticas que estimem quantas mulheres sofrem ou sofreram agressões e abusos em academias e tatames. Em contato com dezenas de atletas ao longo de mais de um ano de apuração, a reportagem soube de inúmeras histórias de agressão, algumas com várias testemunhas, mas poucas vítimas aceitaram falar abertamente.
Na maioria dos casos, o medo e a vergonha impedem que as mulheres denunciem seus agressores. Algumas não quiseram falar pelo risco de se
“queimarem” no esporte, um ambiente já tradicionalmente hostil para muitas mulheres, algo que os relatos deixam claro. Outras preferiram se calar por acreditar que denunciar atos de violência não leva a qualquer punição a quem os pratica.
Os textos foram escritos com base em várias entrevistas com as vítimas e seu cotejamento com documentos públicos, como boletins de ocorrência e autos de processo, além de fotos, vídeos e registros escritos.
Com a publicação semanal dos relatos, o UOL Esporte espera chamar atenção para o assunto e incentivar a revelação de outros casos com a hashtag #QueroLutarEmPaz.