Consequências do abuso são profundas e duradouras, incluindo transtornos mentais, doenças, gravidez indesejada e risco de suicídio
Problema de saúde pública global, a violência sexual atinge cerca de uma em cada dez crianças no mundo. Os dados são de um novo estudo publicado no periódico Jama Pediatrics na segunda-feira, 13.
Para chegar aos resultados, os pesquisadores revisaram informações de mais de 150 trabalhos científicos. Enquanto 11% das crianças sofreram assédio sexual, 9% foram vítimas de violência por contato.
“O assédio sexual pode ser considerado a partir da imposição de certas ideias, falas ou valores na vítima, como explica o psicólogo Maycon Torres, professor da Universidade Federal Fluminense (UFF).
Como exemplo, a introdução de algum tipo de conteúdo sexual que não condiz com a etapa de desenvolvimento da criança. “Ou o incentivo a se tocar, dançar ou fazer algum tipo de gesto ou movimento mais sexualizado para o adulto”, detalha. Já a violência de contato é a perpetuação do abuso do contato físico.
Além disso, a análise revela que 6% das crianças relataram ter sofrido relações sexuais forçadas completas em algum momento da vida.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde, a violência sexual é definida como qualquer contato sexual não consensual concluído ou tentado, e até mesmo atos de natureza sexual que não envolvam toques.
Os casos são perpetrados por pessoas mais velhas ou por colegas. Na grande maioria dos casos, o abusador é alguém próximo da criança. Entre os fatores de risco identificados, estão outras formas de maus-tratos infantis, falta de cuidados parentais e condições crônicas mentais ou físicas das vítimas.
As consequências podem ser profundas e duradouras, incluindo infecções sexualmente transmissíveis (ISTs), gravidez indesejada, transtornos mentais, uso de substâncias e risco de suicídio.
“Estudos epidemiológicos mostram que as experiências de violência influenciam em uma escalada de transtornos depressivos e de isolamento social”, afirma Torres.
“Encontramos ainda uma correlação entre o abuso e o risco de transtornos de personalidade, principalmente borderline, que é marcado por instabilidade afetiva, alteração no pensamento, comportamento mais impulsivo e agressividade com o outro e contra si próprio”, acrescenta Torres.
Além disso, crianças abusadas sexualmente correm um risco significativamente maior de cometer crimes futuramente.
Detalhes do estudo
Ao todo, os especialistas identificaram 165 estudos, que incluíram mais de 958 mil crianças de 80 países, sendo a maioria dos dados focados em meninas (58,2%). A idade média dos jovens era de 10 a 19 anos.
O assédio sexual foi o resultado mais prevalente, relatado por 11,4% dos incluídos nos estudos, seguido por qualquer violência sexual de contato, com 8,7%.
Além disso, 6,1% das crianças relataram ter experimentado relações sexuais forçadas completas em sua vida, e 1,3% afirmaram terem sido vítimas no ano anterior.