(Brasil Econômico, 29/01/2015) Estive no encontro global de sócios da IIC Partners, realizado em Nova York. Tive o prazer de assistir ao painel sobre mulheres em conselhos. Um grupo de mulheres incríveis, com experiências executivas fascinantes e agora contribuindo em sua plenitude em conselhos de companhias diversas, com capital aberto ou privado, com ou sem fins lucrativos, partilharam seus pontos de vista: Janice Ellig, do YMCA; Elaine La Roche, da Marsh e China Construction Bank; Lulu Wang, da MetLife; e Mary Cirillo, da Thomson Reuters.
Um dos temas levantados foi a criação de cotas para mulheres em conselhos de administração. A Noruega foi o primeiro país a estabelecer, em 2003, uma lei que exige no mínimo 40% dos assentos dos conselhos para mulheres. A França aprovou, em 2007, legislação que regulamenta percentual de pelo menos 25% de mulheres no conselho. Na Inglaterra, órgãos reguladores já estão solicitando às empresas informações sobre a inclusão de no mínimo 30% de candidatas do sexo feminino em suas buscas para executivos e conselhos.
O interessante do debate é que nenhuma das presentes defendia a estipulação de cotas nos Estados Unidos. Por quê? Por um lado, todo acionista está em busca do melhor perfil em seu conselho. Por outro, porque não haveria mulheres com track record suficiente para alimentar os conselhos de todas as companhias americanas. A melhor justificativa foi dada por estudo da ONG norteamericana Catalyst, que aponta que empresas que têm mulheres no conselho têm desempenho financeiro melhor dos que as que não têm. Os números falam por si: 84% em retorno sobre vendas, 60% em retorno sobre capital investido e 46% em retorno sobre o patrimônio. Essa justificativa deveria ser suficiente para convencer qualquer empresa a ter em seu conselho presença feminina relevante.
O debate sobre a diversidade de gênero nos conselhos de administração é ainda recente nas discussões da Governança Corporativa no Brasil. Contudo, ganha cada vez mais destaque com a adoção de regras ou adesões de outros países à presença feminina nos postos de liderança.
Nos últimos 20 anos, registramos na Fesa que aproximadamente 35% dos profissionais recrutados para nossos clientes são mulheres. Infelizmente são poucas as que chegam ao topo das organizações e, menos ainda, as que chegam aos conselhos. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), apenas 7,7% das mulheres ocupam posições nos conselhos de administração. Essa realidade precisa mudar, não apenas pela diversidade ou pela possibilidade de obrigatoriedade da lei, mas, novamente, porque melhora os resultados das empresas. É uma matemática que deveria por si só forçar a mudança de mind set.
O que posso dizer é que estamos atentos a este movimento, pois temos como um de nossos valores centrais a crença de que a diversidade traz riqueza. Contamos com a meta de ter 50% de candidatos apresentando diversidade — não só de gênero, mas de crenças, backgrounds, etc. Não é uma tarefa fácil, mas estamos evoluindo com grande velocidade na identificação de mulheres para conselhos administrativos. Espero que as organizações encontrem espaço para que elas possam dar sua contribuição na esfera mais alta de suas organizações e, no fim do dia, lucrar com isso.
Acesse o PDF: Empresas têm a ganhar com mulheres nos conselhos, diz CEO da Fesa, Denys Monteiro (Brasil Econômico, 29/01/2015)