Durante levantamento do Instituto Patrícia Galvão, 77% das mulheres disseram sentir medo de sofrer alguma violência na rua: principais preocupações são com cantadas inconvenientes e olhares insistentes (69%) e importunação e assédio sexual (36%)
(O Globo – Celina | 30/10/2021 / Por Mônica Bergamo)
Sair de casa é, para muitas mulheres, um momento de tensão. No ônibus ou na calçada, no táxi ou na padaria, são muitos os espaços em que, durante o seu deslocamento pela cidade, mulheres são assediadas e importunadas diariamente. A pesquisa “Percepções sobre segurança das mulheres nos deslocamentos pela cidade”, realizada pelo Instituto Patrícia Galvão e Instituto Locomotiva, com apoio da Uber e apoio técnico e institucional da ONU Mulheres, e divuldada em outubro de 2021, mostrou que não é só o novo coronavírus que faz com que 77% das mulheres entrevistadas digam sentir medo ao sair de casa. E não é sem motivo: desconsiderando acidentes de trânsito e atropelamento, 81% das mulheres ouvidas já passaram por ao menos uma situação de violência em seus deslocamentos. As duas mais citadas no levantamento foram o recebimento de olhares insistentes e cantadas inconvenientes (69%) e importunação e assédio sexual (36%).
– É um medo que tem justificativa. A insegurança faz parte do cotidiano das mulheres há muito tempo, e elas sofrem muito mais que os homens, como mostra a pesquisa. E o ambiente onde a violência se dá é muito difícil, naquele transporte lotado com uns colados aos outros, no deslocamento para o trabalh… As mulheres ficam traumatizadas, muitas vezes, mas o índice de denúncias é baixíssimo. Numa delegacia, se ela vai fazer a denúncia de uma importunação, nem é levada a sério – aponta Jacira Melo, diretora do Instituto Patrícia Galvão.
Entre 30 de julho e 10 de agosto, 2.017 homens e mulheres que saem ao menos uma vez por semana às ruas foram entrevistados. Apenas 16% das pessoas que circulam pela cidade disseram se sentir plenamente seguras em seus deslocamentos. Ao se observarem as respostas dadas por representantes de diferentes grupos sociais, percebe-se que a sensação de insegurança não é a mesma para todos: pessoas con deficiência, pessoas de baixa renda, pessoas negras, população LGBTQIA+ e, sobretudo, mulheres (79%) estão entre os grupos percebidos como mais vulneráveis.