Agora, elas começam a romper o silêncio
(Veja Abril | 13/02/2022 | Por Duda Monteiro de Barros, Ricardo Ferraz)
As revoluções burguesas que sacudiram a Europa a partir do século XVII trouxeram embutida a ideia de que a esfera privada tinha um valor fundamental. Foi a senha que reinventou a percepção sobre os vários ritos da vida, entre eles casamento e filhos. O mito do instinto materno ganhou espaço, algo que seria inerente às mulheres, programadas para desempenhar tão nobre papel. A carga sobre elas pesou ao longo dos séculos que se seguiram, pressionadas entre o ingresso no mercado de trabalho e uma rotina multitarefas difícil de equilibrar, mesmo nos dias de hoje. Em um mundo cada vez mais complexo, o exercício da maternidade exige lidar com novas gerações expostas a uma infinidade de estímulos e altamente questionadoras. As mães se veem ainda torpedeadas por um monte de informações sobre o que é certo ou errado e, segundo muitas revelam agora de forma contundente, sentem-se constantemente avaliadas pelos outros no modo como criam a prole.
Essa sensação de permanente escrutínio, tendo os dedos da sociedade apontados em sua direção, é universal. Uma recente pesquisa feita pelo Instituto Ipsos, que mediu a temperatura do fenômeno em 28 países, mostra que 38% se dizem frequentemente julgadas. Entre as brasileiras, o índice sobe para 46%, ou seja, quase a metade desempenha a maternidade com o sentimento de que os que estão a seu redor, um grupo muito além da bolha familiar e dos círculos de amizade, consideram que elas fazem escolhas equivocadas. Entre as razões que as tornam alvo da crítica alheia aparecem a maneira como controlam o comportamento da criança (36%) e em que medida impõem limites (49%) — seja porque são permissivas, seja porque são rigorosas demais com os filhos. “Os comentários endereçados às mães vêm de todos os lados, inclusive de pessoas que nem sequer são pais e não têm noção do que estão falando”, observa Priscilla Branco, uma das autoras do estudo.